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Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 026: Antropologia, memória e eventos críticos
As Alianças e os Aliados na Segunda Guerra Mundial segundo os manuscritos do Povo Marworno
A colonização da região do escudo das guianas foi demarcada dentre fluxos e refluxos pelo clarim de diferentes máquinas de guerra euro-americanas, ao longo de cinco séculos, o que determinou a sujeição da territorialidade dos povos autóctones que inadvertidamente participaram da produção de novas fronteiras arbitrárias, engajando-se, ora como aliados, ora como inimigos dos agentes coloniais. Nesse sentido, o exercício de (re)compor a história da invasão e colonização guianense deve partir de fontes mnemônicas e historiográficas outras, que não a interessada produção eurocêntrica. Tal possibilidade/exercício ganha novos significados quando nos deparamos com os registros da contra-história ou, se pudermos assim conceituar, de uma modalidade de antropologia-histórica reversa, tornada possível no passado e no presente pelo trabalho de uma elite de pessoas indígenas que se aplicaram e aplicam à apropriação das ferramentas de domínio cultural do colonizador – a exemplo do código alfabético – na tentativa de organizar seu mundo e seu próprio lugar na história, segundo critérios epistêmicos próprios. Aparentemente, foi a partir desse exercício de “se reassenhorear de si mesmo” e de seu lugar na história/mundo – proposição de Albert Memmi em direção ao sujeito colonizado (MEMMI, 2007, p. 177) – que os manuscritos do ancião indígena Koko Tavi (1953-2016) foram coligidos ao longo do século XX, guardando, no tempo presente, o potencial de permitir-nos o vislumbre de uma história Galibi Marworno, tida e havida em seus próprios termos, no caso de conseguir-se realizar uma tradução intercultural adequada. Na presente reflexão pretende-se, aos manuscritos indígenas, acrescentar imagens e informações coligidas sobre a Segunda Guerra Mundial no interior da antiga Guiana portuguesa – atual ente federado do Amapá –, tendo em vista que a conflagração guarda a característica de ser o conflito mais bem documentado da história global, tendo em vista o vigor documental da propaganda de guerra das nações beligerantes. Dos registros constantes do diário do escritor/memorialista indígena, nos concentraremos nas menções a segunda guerra, evento que parece ter marcado um profundo sulco na memória do Povo Marworno, nação de origem Carib, atualmente territorializada na Terra Indígena Uaçá, município de Oiapoque/Amapá/Brasil.