Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 045: Economias, políticas e territorialidades indígenas e negras: cenários de conflito, mudança social e identidade étnica
Casas de artesanato, casas de artesão: agência, política e cultura no Quilombo Campinho da Independência (Paraty/RJ)
As mudanças no Quilombo Campinho da Independência por meio da luta política proporcionaram melhorias nas condições de vida ao mesmo tempo que evidenciam as contradições dos processos de reconhecimento étnico, pois precisam manter elementos de uma noção reificada de cultura quilombola. As diferentes significações da categoria "casa", neste sentido, revelam um processo de objetificação desses valores culturais, na medida em que as casas de artesãos são construções de alvenaria e os objetos que compõem seu interior são de origem industrial e as casas de artesanato permaneceram como construções de pau-a-pique ou alvenaria revestida com barro compostas por objetos artesanais feitos com fibras naturais, conformando o imaginário exótico de uma casa tradicional quilombola, ou seja, a essencialização da identidade étnica como um recurso estratégico. O primeiro aspecto dessa mudança é o consumo desses objetos, o qual não é mais uma realidade no interior das unidades domésticas, sendo reservados apenas para as casas de artesanato, mobilizando o valor cultural atribuído aos objetos a fim de negociação do valor econômico. O segundo aspecto remete à substituição da utilidade prática por uma utilidade política para artesãos, pois criam estratégias nos espaços domésticos para assegurar seus direitos políticos perante ao Estado e assegurar a comercialização frente ao gosto pelo exótico dos turistas. A comparação entre os dois modelos de casa evidenciam o processo de formação da identidade étnica no tempo presente com base no tempo passado (Gusmão, 1995) e o agenciamento da simbologia da casa tradicional quilombola na arena turística que, em outras palavras, é um movimento de politização da cultura (Turner, 1991) e manutenção de elementos da tradição, a qual é inerente ao domínio da política (Grunewald, 2012). O objetivo deste trabalho, portanto, é descrever o processo de reorganização política e econômica do Campinho por meio da análise das estratégias de mobilização dos artesanatos a fim de manutenção dos direitos territoriais quilombolas e geração de recursos financeiros.
REFERÊNCIAS
GRUNEWALD, R. A. Tradição. In: LIMA, Antonio Carlos de Souza. Antropologia e direito: temas antropológicos para estudos jurídicos. Brasília/Rio de Janeiro/Blumenau: Associação Brasileira de Antropologia/LACED/Nova Letra, p. 186-197, 2012.
GUSMÃO, N. M. M. Terras de preto, terras de mulheres: terra, mulher e raça num bairro rural negro. Brasília: MINC, Fundação Cultural Palmares, 1995.
TURNER, T. Representing, resisting, rethinking: historical transformations of Kayapo culture and anthropological consciousness. In: STOCKING JR., George W. (Ed.). Colonial Situations: Essays on the Contextualization of Ethnographic Knowledge. Madison, Wisconsin: The University of Wisconsin Press.