ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 005: Antropoceno, Colonialismo e Agriculturas: resistências indígenas, quilombolas e camponesas diante das mutações climáticas
Entre Mahindra e apapalutapanhau: novos graus de impactos do agronegócio a partir da cosmologia do povo Yawalapiti (Aruak).
Este é um trabalho que visa analisar as decorrências do avanço da fronteira agrícola sobre a Terra Indígena do Xingu (TIX), situada no estado de Mato Grosso, pela perspectiva do povo Yawalapíti. O limite da Terra Indígena é um divisor entre a preservação de boa parte de cobertura vegetal — registrada na TIX — e grandes porções que perderam sua cobertura vegetal para empreendimentos econômicos de plantio de monoculturas — principalmente de soja, milho e algodão — e criação de gado destinado para a indústria da carne. O processamento e a logística de distribuição destas produções também devem ser considerados. Apesar da TIX ter sido demarcada em 1961 e homologada 30 anos após, existem diversas denúncias, dados oficiais e relatos que evidenciam as pressões das atividades citadas sobre a Terra Indígena (TI). A região que compreende a TIX é de grande importância hídrica. Nas fazendas vizinhas, localizam-se as cabeceiras dos três principais rios formadores do rio Xingu — Kurisevo, Kuluene e Ronuro — que ficaram de fora da demarcação da TI, devido a articulações políticas e interesses do plano de ocupação de terras da região. Os impactos decorrentes destes grandes empreendimentos estão além de serem apenas ambientais ou ecológicos, mas afetam também a escala social, cultural e cosmológica. É importante a compreensão dos aspectos fundiários da região e dos agentes envolvidos, assim como as dimensões desses impactos, tanto pela cosmologia yawalapíti quanto pela ótica externa. Desta forma, é possível evidenciar não só diferentes perspectivas, mas também usos convergentes da terra e dos recursos naturais, através de práticas de manejo e cultivo dos diferentes grupos sociais que habitam a região. O que nos interessa aqui é o desenvolvimento de sistemas de agricultura, comum aos indígenas e aos não-indígenas, mas que se baseiam em princípios díspares. Com filosofias e propósitos de plantio bem diferentes, destaca-se um marcador bem incisivo que separa os modos de uso da terra e de acesso aos que tangem os territórios. Esse marcador se dá pela forma de perceber, se relacionar e classificar o que entende-se como “recursos naturais” segundo os grandes empreendimentos ou segundo os Yawalapíti, que destacam a agência dos apapalutapanhau — espíritos. Dado contexto, o objetivo final é evidenciar possíveis convergências entre estes diferentes modos de produção e perspectivas, considerando, por exemplo, as anomalias ambientais provenientes do desmatamento e outras ações antrópicas de larga escala — o capitalismo agrário — e sua relação com as mudanças climáticas.