ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 035: Cidades e citadinidades: questões de Antropologia Urbana
Terreiros e cidades: co-constituição, socialidades mais-que-humanas e modos de fazer lugares
Como cidades e terreiros de candomblé se fazem, desfazem e refazem, em relação? Que lugares são, esporádica ou continuamente, utilizados pelo povo de santo em cada cidade, transformando seus usos e/ou criando novas formas de habitar o espaço? Aqui, proponho uma reflexão sobre os impactos que o desenvolvimento urbano causa aos terreiros de candomblé, alterando suas rotas e modificando o cotidiano das casas, ao mesmo tempo em que discuto como estas casas de culto surgem, se moldam, se deslocam e se refazem para se manterem ativas apesar da inquietação constante que marca as grandes cidades. Partindo da perspectiva dos estudos sobre candomblé, e olhando desde os trabalhos antropológicos empreendidos por pesquisadores dessa religião afro-brasileira no contexto de Salvador, sua região metropolitana e adentrando o Recôncavo Baiano, destaco que poucos foram aqueles que se debruçaram realmente sobre a temática dos terreiros e sua relação com o espaço-cidade, lidando com a questão de maneira tangencial, assumindo-a como dada ou pensando de maneira determinista, em que o espaço-terreiro está constituído de uma vez por todas e serviria, tal qual um modelo, para todas as formas de apropriação entre terreiros e cidades, desconsiderando as especificidades de cada casa de culto e seus modos únicos de habitar e produzir lugares. Este modo genérico de olhar para a relação aqui proposta torna subjacente, ainda, outro ponto relevante para a discussão: o espaço, ele próprio, viabiliza modos singulares para que cada terreiro venha a existir. Muitos são os desafios enfrentados quando levamos em conta essa conexão, e traz repercussões que incidem sobre a existência dos terreiros. Mudanças espaciais - sejam elas provocadas por demandas de entidades ou pessoas, ação do poder público sobre o espaço ou necessidade de expansão dos terreiros, além de questões relacionadas à perseguição religiosa - são parte da história de vida de muitas dessas casas de candomblé. Para fins desse debate, me interesso em examinar como diferentes tipos de actantes - pensando a partir de Latour (2012) - ou agentes (sendo eles pessoas, animais, objetos rituais e entidades as mais diversas) se associam à questão espacial e como esta afeta os agentes, em uma relação associativa, na qual os vínculos estabelecidos importam e instauram mundos. Ingold (2015) chama essas conexões de malhas, o me que permite olhar para trajetórias de agentes diversos e são boas para pensar sobre como estas constituem lugares, através dos movimentos. O terreiro de candomblé, é, assim, um organismo vivo, que se movimenta por diversas linhas de trajetórias, que se encontram e se entrelaçam, produzindo espaços urbanos, impactando na dinâmica das cidades e sendo impactado por elas, numa relação dialética incessante.