Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 054: Etnografia da e na cidade: o viver no contexto urbano em suas formas sensíveis
Ser negro: Reflexões sobre condições e vida e trabalho em Porto Alegre
Elisa Algayer Casagrande (UFRGS), Alexandro Cardoso (UFRGS)
No presente ensaio, propomos uma reflexão sobre as condições de vida e trabalho atravessados pelo
racismo ambiental na cidade de Porto Alegre, trazendo observações de campo sobre catadoras/es de materiais
recicláveis e população negra na cidade. Este estudo se baseia em uma perspectiva antropológica das cidades,
da memória e dos resíduos, explorando a intersecção entre as experiências históricas dessas populações e
suas paisagens urbanas, sob o olhar da Antropologia Urbana. Inspirados pelos trabalhos de Gilberto Velho
(1981, 1994) sobre sociedades complexas, e guiados pela abordagem da etnografia da duração (Eckert, 1991;
Rocha, 1994), buscamos investigar as metrópoles e seus habitantes. Nossas pesquisas, conduzidas no doutorado
em Antropologia Social pelos Programas de Pós-Graduação em Antropologia Social na Universidade Federal do
Rio Grande do Sul (PPGAS/UFRGS), utilizando técnicas de observação participante e mais profundo, como
pesquisador que vem de dentro (Cardoso, 2022) e etnografia audiovisual para trazer estes relatos. É
importante também considerar a destruição criativa (Durand, 1997) e a ideia de renascimento urbano trazida
por um canteiro de obras (Halbwachs, 1990) presente no discurso utilizado para as remoções no processo de
"revitalização" em que projetos de desenvolvimento urbano são implementados sem considerar os impactos
sociais e ambientais, resultando na marginalização e deslocamento de comunidades inteiras. Nosso objetivo é
refletir não apenas as condições materiais, mas também as dinâmicas sociais e ambientais que moldam suas
vidas e trabalho, mas, mais do que isso, de que forma algumas populações se deslocam e são deslocadas para a
vida em determinados locais da cidade, e como a memória destes grupos se entrelaça com a memória da cidade e
das paisagens urbanas. Porto Alegre, como muitas outras cidades brasileiras, é marcada por uma história de
urbanização desigual e segregação espacial. As populações negras frequentemente enfrentam condições
precárias de moradia, acesso limitado a serviços básicos e discriminação no mercado de trabalho. Além disso,
o racismo ambiental se manifesta através da poluição e degradação ambiental concentradas em áreas habitadas
predominantemente por pessoas negras. Neste contexto, as relações entre os moradores das cidades e as
paisagens urbanas são complexas e multifacetadas. As experiências das populações negras e dos catadores de
materiais recicláveis refletem não apenas as injustiças sociais, mas também formas de resistência. Através
de nossas pesquisas, buscamos destacar essas vozes e promover uma reflexão mais ampla sobre questões de
justiça social, o urbano e direitos humanos.