Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 033: Cartas, cartografias, confabulações e outras correspondências antropoéticas
Cartografias de palavracidade
Lara Denise Oliveira Silva (Mecila)
Esta proposta de trabalho busca compreender, descrever e imaginar as trocas e interações possíveis entre cidades e seus habitantes a partir da experiência da palavra escrita, anônima e publicamente, nas mais variadas superfícies urbanas. Refiro-me a frases, riscos e palavras escritas e marcadas em muros, paredes, postes e outros equipamentos urbanos. A partir do registro fotográfico e da caminhada como dispositivos metodológicos, busca-se traçar as conexões entre quem escreve, lê, reescreve, risca e interage na paisagem urbana tomando como materialidade as escritas de rua.
Nos últimos anos (SILVA 2011;2013;2021), minha atenção enquanto pesquisadora, se mobilizou para compreender e interpretar intervenções que escapavam e pareciam fugir das classificações costumeiras das artes de rua. Eram palavras e frases aparentemente aleatórias e sem significados evidentes como – alento, nua, qualquer coisa, existo etc - escritas, grafadas em equipamentos urbanos diversos como, bancos de praça, caixas de energia, postes, placas de sinalização, asfalto, muros, paredes em demolição etc, sem autoria ou intenção aparente. Para esta proposta em particular, busco perceber o que narram as interações registradas nestes equipamentos urbanos a partir das trocas e diálogos que se estabelecem por meio das rasuras, respostas, riscos, atropelos etc. Ou seja, de que forma o muro registra as interações entre escritores, leitores e passantes a partir da palavra ou frase escrita inicialmente ali? Para responder a estas indagações, um vídeo-carta endereçado aos leitores da cidade será montado.
A cidade e a ligação que estabelecemos com ela parece extrapolar o construído, o ir e vir, a racionalidade dos deslocamentos, a temporalidade demarcada, o anonimato e a impessoalidade. Há outras camadas além do concreto das ruas, avenidas, praças, prédios e outros objetos construídos. É possível, portanto, compreender a cidade a partir de lentes alternativas aos estudos e abordagens clássicas, tomando como ponto de partida as inscrições – riscos, frases, palavras, desenhos, garatujas etc – feitas em muros, paredes, calçadas, postes, bancos de praça e tantas superfícies públicas da cidade.
E é esta compreensão que proponho aqui: uma abordagem alternativa, não costumeira e transdiciplinar aos estudos da cidade ao debruçar-se sobre um fenômeno crescente e abundante na paisagem urbanas: as intervenções públicas realizadas em superfícies “desimportantes” e que parecem narrar a cidade ao escreverem textos aparentemente sem intenção ou significado, mas que podem se configurar como um instrumento de compreensão da relação entre os sujeitos e como eles se apropriam das cidades.