Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 057: Etnografias em contextos de violência, criminalização e encarceramento
"A gente é o certo": concepções morais acerca do 'crime' e do Estado por parte dos 'irmãos' de Pedrinhas
O presente trabalho parte do objetivo de se debruçar sobre as formulações morais que os meus
interlocutores, homens presos, produzem sobre si mesmos, e como essas formulações autorreferenciadas se
relacionam ou se diferem de formulações morais feitas sobre o crime, mas de fora dele. Eu denominei as
formulações dos homens com quem converso de contra-moral, no sentido de que são relacionais, de dentro, mas
referidas à perspectivas de fora.
Ser do 'crime', no universo prisional, não é a mesma coisa que cometer um crime, e é um pertencimento sempre
em disputa. Pela produção intensa, coesa e específica que o PCC faz de categorias morais relacionadas ao
crime, eu escolhi me deter nesse ponto de vista.
A partir de uma etnografia realizada no presídio de Pedrinhas, em São Luís - MA, no pavilhão pertencente ao
PCC, o trabalho pretende compreender como estes irmãos e companheiros produzem um discurso que parte de uma
conduta do Estado para justificar as suas condutas na demanda por direitos. Segundo meus interlocutores, o
PCC 'demonstra respeito para ser respeitado', procura dialogar com o Estado para que se chegue em um
'entendimento', mas nunca em uma 'negociação'. Assim, eles 'batem de frente', mas sempre 'em cima' daquilo
que o Estado diz, e colocando 'o lado deles', porque, segundo os mesmos, eles sabem 'seus direitos'.
Dessa forma, busca-se compreender como o 'certo' é formulado a partir de determinadas balizas, e quais
modulações são necessárias para que o 'certo' seja definição moral do 'crime', tal como pensado pelo PCC,
muito diferente daquele pensado pelo Estado.