Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 056: Etnografias do catolicismo: práticas, rituais, experiências e trajetórias em perspectiva
Rezadores e Rezadoras de Ladainha no Marajó: hierarquias, tensões e alianças no cotidiano do Catolicismo
em Ponta de Pedras.
A fé católica está ligada diretamente ao processo colonial no Brasil, por se tratar da religião oficial
de Portugal. Como instituição seus meios de atuação perpassam pela moralização dos costumes e pela
catequização. O fim do império em 1889 significou o término dessa hegemonia e a perda de espaço como
religião oficial. Mudanças importantes também ocorreram na própria igreja a partir do Concílio Vaticano II.
A igreja na Amazônia enfrentou obstáculos diversos para a evangelização, principalmente, por conta das
grandes dimensões do território e a falta de sacerdotes. As metodologias empregadas foram as desobrigas,
registradas desde o período colonial, e em seguida foram implementadas as Comunidades Eclesiais de Base
(CEBs) (Gordiano, 2017). Nesse contexto, a atuação de lideranças leigas era indispensável a fim de que as
comunidades mantivessem a fé mesmo sem a presença dos sacramentos. A devoção aos santos representou um
caminho para realizá-lo. O trabalho tem por objetivo ressaltar a experiência dos rezadores e rezadoras de
ladainhas, que na ausência de sacerdotes conseguiam reunir as pessoas para orações comuns, cantadas em latim
próprio do aprendizado oral. Trata-se aqui de evidenciar a relação estabelecida entre os leigos e a
hierarquia oficial da igreja com seus conflitos, acordos e alianças. Aponta-se então uma escala temporal de
permanências e mudanças na forma de dirigir esse ritual. A pesquisa é qualitativa, um trabalho
antropológico, uma antropologia conforme Ingold (2015) construída com os atores e não apenas sobre eles. Os
métodos serão: a história de vida (Kofes, 1994; Thompson, 1992) e também a observação participante na busca
de estabelecer um diálogo com os interlocutores (Uriate, 2012). Portanto, partirei da perspectiva dos
sujeitos leigos e leigas, rezadores e rezadoras de ladainha de Ponta de Pedras e seus associados, e não da
hierarquia da igreja. Essa é a dinâmica do campo religioso (Boudieu, 2007), ora tensa, ora de alianças,
entre os especialistas do sagrado e os leigos. Dessa forma, esta relação pode ser denominada
complementariedade contraditória (Maués, 1995) marcante na história da igreja no Brasil e presente na fala
dos interlocutores que vivenciam diariamente o catolicismo.
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