Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 022: Antropologia e Povos Indígenas em Contextos Nacionais Diversos
Antropologia e Povos Indígenas desde uma perspectiva comparativa: Brasil, Canadá, Austrália e Argentina
A partir da noção de “estilos de antropologia” (Cardoso de Oliveira; Ruben, 1995), fazemos um esboço da antropologia social que se pratica no Brasil junto a povos indígenas para examinar tentativas de definir um estilo nacional da disciplina. Para o período entre os anos 1920 e 1950, Roberto Cardoso de Oliveira distingue fases históricas da disciplina, marcadas na etnologia indígena pelo período “heroico” representado por Curt Nimuendaju, e o período “carismático” representado por Darcy Ribeiro, cujas orientações foram pautadas pela noção de cultura (cultural-funcionalismo), e Florestan Fernandes, orientado pela noção de estrutura (estrutural-funcionalismo) (Cardoso de Oliveira, 1988, p. 109-128). A partir dos anos 1950 surgiram autores como Egon Schaden, Eduardo Galvão, Florestan Fernandes e Darcy Ribeiro. Peirano (1991) argumenta que a reconstrução histórica da sociedade Tupinambá realizada por Fernandes não teve impacto forte na etnologia por estar longe do empenho dos antropólogos da época na construção da nação brasileira. Darcy Ribeiro, insatisfeito com a abordagem culturalista para estudar as sociedades indígenas no Brasil, propôs a noção de “transfiguração étnica”, a partir de noções neoevolucionistas e marxistas, muito abrangente para ser aplicável no nível empírico, e ainda vinculada ao culturalismo. O rompimento teórico com a abordagem culturalista, que predominava no Brasil na época, foi realizado por Roberto Cardoso de Oliveira que elaborou a noção de “fricção interétnica” (1964), mudando o foco de análise da cultura indígena para as relações sociais entre indígenas e não-indígenas. Esta noção foi explorada por seus primeiros alunos nos anos 1960, como Julio Cezar Melatti, Roque de Barros Laraia e Roberto DaMatta e teve forte impacto na etnologia indígena no Brasil durante duas décadas. A próxima geração, representada por autores como João Pacheco de Oliveira e Eduardo Viveiros de Castro, resultou no surgimento de duas vertentes na etnologia indígena. Pacheco de Oliveira e seus seguidores se enredaram por uma antropologia histórica examinando sociedades indígenas no contexto da sociedade nacional, enquanto Viveiros de Castro e seus seguidores elaboraram o perspectivismo ameríndio, abordagem influenciada pelo estruturalismo de Claude Lévi-Strauss e seus seguidores como Phillipe Descola. Outrxs antropologxs no Brasil seguiram linhas independentes abordando tanto aspectos internos das sociedades indígenas como as relações interétnicas. Nos últimos anos, o ingresso de indígenas na antropologia vem trazendo mudanças à disciplina com a presença crescente de indígenas antropólogos, o que promete criar novos rumos na disciplina.