Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 060: Experimentos de Ontologia: formas de mundialização desiguais e etnografia como atuar criativo.
Epistemologia vegetal: agência e circularidade das plantas de cura e cuidados no Ver-o-Peso
Este estudo busca compreender a agência e circularidade de plantas de cura e cuidados físicos e
espirituais, no setor de ervas do Ver-o-Peso, na cidade de Belém, no estado do Pará, uma das mais antigas e
tradicionais feiras da América Latina. Considerando que esses processos estabelecem uma relação intima entre
humanos e vegetais a partir de sistemas de conhecimentos de povos da Amazônia, associados a medicina
tradicional e ao universo natural das plantas, buscam solucionar questões de saúde, de modo que pessoas que
possuem experiência com este tipo de medicina desenvolvem práticas espirituais, que dialogam com a agência
vegetal. Contudo, a relação humana com as plantas tem sido motivo de especulação capitalista, geralmente
encaradas e instrumentalizadas para os interesses humanos, mas de pouco ou nenhum interesse sobre as
espécies de plantas que atuam com seus hábitos, diversidade e presença na vida das pessoas. As plantas têm
histórias de vida e participam do cotidiano da cidade, desde as mangueiras que ladeiam suas avenidas aos
frascos de garrafadas comercializadas nas feiras, dando seu próprio testemunho existencial, por meio de suas
sombras, seus frutos, suas raízes e suas capacidades de cura. As bases teóricas metodológicas desta pesquisa
buscam um diálogo etnográfico e interdisciplinar com que expressamente vem sendo chamado de epistemologia
vegetal, ou virada vegetal (COCCIA, 2018) que considera as plantas criadoras do mundo, interferindo,
modificando, interagindo e organizando a vida dos seres humanos. Em seguida, contribuindo, as Vozes Vegetais
(OLIVEIRA et al., 2022) abordando a relação entre seres humanos e plantas, com palavras convidativas para
ouvir, aprender e vegetar com as plantas: semear a terra, raízes da diversidade, sociabilidades vegetais e
colher frutos, considerando a inteligência, sensibilidade e capacidade de comunicação das plantas (MANCUSO,
2019) entre si e nas suas relações com os seres humanos. De modo que, descentralize da ideia da natureza, em
especial os agentes vegetais como mero instrumento humano, e sim atores protagonistas de histórias,
promotores de uma diversidade epistêmica.
Palavras-chave: Agência. Circularidade. Cuidados. Plantas. Amazônia.