Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 035: Cidades e citadinidades: questões de Antropologia Urbana
Territorialidade afro-diaspórica e o cortejo da entrega do presente à Iemanjá pelo afoxé dos Filhos de Gandhi do Rio de Janeiro
Trata-se de uma pesquisa desenvolvida no âmbito da Produção do Território e de Territorialidades Negras do Rio de Janeiro, realizado pelo Grupo de Pesquisa na Produção do Territórios e Territorialidades Baobá da PUC Rio.
Esse trabalho teve como objetivo investigar o contexto da realização da cerimônia e do cortejo da entrega de presente à Iemanjá (orixá das religiões de matriz africana), pelo afoxé Filhos de Gandhi do Rio de Janeiro. O evento ocorreu no dia 02 de fevereiro de 2024, com início as 8h na sede do grupo na rua Camerino número 07, no bairro da Saúde.
A partir de uma revisão de literatura, através de buscadores em repositórios como o Portal Capes, Scielo, e outros, bem como em bancos de dados de Universidades Brasileiras, fizemos uma aproximação do tema. Posteriormente a partir de observação participante, foi realizado um registro de cada etapa desse evento e a seguir, a análise das mesmas. Ainda, durante a concentração na sede do afoxé, bem como na hora da alimentação e da roda para evocação dos Orixás (xirê) e no cortejo, realizamos um amplo registro fotográfico e de vídeos, além de conversas informais com os participantes, buscando compreender cada ação ou fato relevante. Com isso, organizamos a descrição e análise crítica dos fatos e das narrativas, para enfim, partir para as considerações finais.
O presente a Iemanjá é realizado há cerca de 70 anos, quando da fundação do afoxé Filhos de Gandhi do Rio de Janeiro, que teria sido criado sob inspiração do Ijexá Filhos de Gandhy-bloco carnavalesco criado anteriormente em Salvador no Estado da Bahia.
A presença dos praticantes de religião de matriz africana é histórica nessa área, relatado pela presença de uma grande casa de candomblé do Pai de Alabá (CORRÊA, 2016).
Os membros do afoxé, juntamente com seus convidados e a população em geral, se reúnem na sede para preparar os barquinhos que são transportados em um cortejo até a praça Mauá, onde uma embarcação levará as lideranças do grupo e os representantes das religiões de matriz africana até a proximidade dos pilares da ponte Rio x Niterói, onde os participantes entregaram seus presentes a Iemanjá.
Em certa medida, podemos salientar uma resistência por parte desse grupo que luta para manter essa importante tradição negra, como se fosse possível fazer a partir do cortejo o caminho inverso do desembarque de escravizados no antigo cais do Valongo. Numa espécie de insurgência literalmente pela contramão da via de trânsito esse grupo ao som dos atabaques, personagens icônicos de representação da cultura afro-brasileira e berimbaus retorna ao oceano atlântico.