ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 035: Cidades e citadinidades: questões de Antropologia Urbana
Territorialidade afro-diaspórica e o cortejo da entrega do presente à Iemanjá pelo afoxé dos Filhos de Gandhi do Rio de Janeiro
Trata-se de uma pesquisa desenvolvida no âmbito da Produção do Território e de Territorialidades Negras do Rio de Janeiro, realizado pelo Grupo de Pesquisa na Produção do Territórios e Territorialidades – Baobá da PUC Rio. Esse trabalho teve como objetivo investigar o contexto da realização da cerimônia e do cortejo da entrega de presente à Iemanjá (orixá das religiões de matriz africana), pelo afoxé Filhos de Gandhi do Rio de Janeiro. O evento ocorreu no dia 02 de fevereiro de 2024, com início as 8h na sede do grupo na rua Camerino número 07, no bairro da Saúde. A partir de uma revisão de literatura, através de buscadores em repositórios como o Portal Capes, Scielo, e outros, bem como em bancos de dados de Universidades Brasileiras, fizemos uma aproximação do tema. Posteriormente a partir de observação participante, foi realizado um registro de cada etapa desse evento e a seguir, a análise das mesmas. Ainda, durante a concentração na sede do afoxé, bem como na hora da alimentação e da roda para evocação dos Orixás (xirê) e no cortejo, realizamos um amplo registro fotográfico e de vídeos, além de conversas informais com os participantes, buscando compreender cada ação ou fato relevante. Com isso, organizamos a descrição e análise crítica dos fatos e das narrativas, para enfim, partir para as considerações finais. O presente a Iemanjá é realizado há cerca de 70 anos, quando da fundação do afoxé Filhos de Gandhi do Rio de Janeiro, que teria sido criado sob inspiração do Ijexá Filhos de Gandhy-bloco carnavalesco criado anteriormente em Salvador no Estado da Bahia. A presença dos praticantes de religião de matriz africana é histórica nessa área, relatado pela presença de uma grande casa de candomblé do Pai de Alabá (CORRÊA, 2016). Os membros do afoxé, juntamente com seus convidados e a população em geral, se reúnem na sede para preparar os barquinhos que são transportados em um cortejo até a praça Mauá, onde uma embarcação levará as lideranças do grupo e os representantes das religiões de matriz africana até a proximidade dos pilares da ponte Rio x Niterói, onde os participantes entregaram seus presentes a Iemanjá. Em certa medida, podemos salientar uma resistência por parte desse grupo que luta para manter essa importante tradição negra, como se fosse possível fazer – a partir do cortejo – o caminho inverso do desembarque de escravizados no antigo cais do Valongo. Numa espécie de insurgência – literalmente pela contramão da via de trânsito – esse grupo ao som dos atabaques, personagens icônicos de representação da cultura afro-brasileira e berimbaus retorna ao oceano atlântico.