ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 023: Antropologia e saúde mental: sofrimento social e (micro)políticas emancipatórias
Nomeando a dor: Pânico, desigualdade social e sofrimento psíquico na pandemia da covid-19
Em meio à pandemia da covid-19, um jovem de 26 anos se encolhe num canto da rua com medo e começa a gritar que vai morrer. Uma senhora de 68 anos desiste de caminhar até o mercado com medo das multidões. Ambos afirmam que passaram por crises de pânico. As histórias de Afonso, homem pardo morador de uma favela em São Gonçalo e de Rebeca, uma mulher branca que morava em um apartamento na zona sul do Rio de Janeiro, se encontram nesse trabalho. Elas agem como fio condutor para pensar a forma como as ideias de sofrimento social, de emoções e da linguagem biomédica se articulam em realidades socioeconômicos distintas no intuito de compreender a dor vivenciada por nossos interlocutores. Este trabalho é fruto do encontro das pesquisas de mestrado empreendidas pelos dois autores e dos debates promovidos a partir delas. Realizadas durante a crise sanitária do novo coronavírus, ambos os estudos utilizam entrevistas semi-estruturadas como ferramenta investigativa e contaram com 10 participantes cada. Enquanto uma das pesquisas se debruçou sobre a investigação dos impactos psicossociais do isolamento social em favelas da região metropolitana do Rio de Janeiro, a outra se ateve a investigação das experiencias de adoecimento e internação por covid-19 entre pessoas de camadas medias da mesma região. Para compor essa comunicação no GT, escolhemos recortes das narrativas de nossos interlocutores que abordam as suas experiências de pânico e de medo. Apesar de virem de contextos e possuírem vidas bastante distintas, ambos se utilizam de um vocabulário “psi para nomear sua angústia. Com base na linguagem utilizada por ambos os participantes, pretendemos discutir como termos clínicos ultrapassaram as fronteiras da academia, de consultórios e hospitais e passaram a ser empreendidos na vida cotidiana. Questionamos: com que finalidades e em que momentos esses termos são mobilizados? O quanto é preciso patologizar emoções para, então, legitimá-la ou valorizá-la? Que categorias são audíveis? E quem as escuta?