ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 095: Saberes plurais em torno do uso de drogas
(Re)produção de gênero e sexualidade entre pessoas LGBTQIAPN+ na doutrina do Daime em Santa Izabel-PA
Esta comunicação objetiva discutir a relação do consumo da ayahuasca com a construção do gênero e da sexualidade de pessoas LGBTQIAPN+ praticantes dos rituais da doutrina do Daime no espaço do Centro de Iluminação Cristã Luz Universal de Juramidã - Pará – CICLUJUR-PA, um espaço de consumo da ayahuasca marcado pela moral cristã, localizado na região metropolitana de Belém-PA. É um desdobramento de etnografia anteriormente realizada no mesmo lugar a respeito da (re)produção da diferenciação de gênero dentro e fora dos rituais da doutrina no referido centro. Toma como ponto de partida a disciplina¸ categoria que organiza e ordena os espaços ritualísticos e a performance dos participantes nas cerimônias de consumo da ayahuasca/Daime a partir dos elementos materiais e dos discursos que regulam a experiência psicoativa com a bebida (ROCHA, 2023). Considero que a disciplina materializa uma matriz heteronormativa que atua sobre os participantes em uma dimensão interrelacional, que tem influência sobre as subjetividades dos participantes em, ao menos duas camadas: a relação engendrada pelo consumo do psicoativo (pessoa-Daime) e a relação do praticante com os elementos materiais e tabus e interdições necessários à participação no rito (pessoa-doutrina). Esta inter-relação entre psicoativo-pessoa-doutrina revela um campo onde atuam a agência do próprio psicoativo sobre a pessoa e da doutrina enquanto instituição sobre os sujeitos. A partir dos discursos de pessoas LGBTQIAPN+ associados ao CICLUJUR-PA, fica evidente que estes sujeitos se mobilizam a partir dos afetos provenientes da experiência individual do consumo do psicoativo para desestabilizar a matriz ritual heteronormativa da doutrina. As percepções sobre identidade sexual e a vivência da sexualidade influenciadas pelo uso do Daime podem se definir em facilitação, enquadramento e aceitação à disciplina, mas também revelam contradições e apagamentos. As interlocuções com estas pessoas viabilizam uma problematização da agência da bebida enquanto um ente que opera sobre a subjetividade e influencia a construção da sexualidade de quem a bebe, produzindo efeitos e resultados que podem se apresentar diversos do (hetero)normatividade do contexto ritual da doutrina do Daime.