Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 011: Antropologia da técnica
Captura da virtualidade em algoritmos bioinspirados: apropriação da informação em práticas de modelagem computacional biomimética
Com a crescente digitalização de diversos processos da vida cotidiana e o aumento significativo de situações mediadas por algoritmos, entender como estes são produzidos e funcionam é tarefa fundamental. Nesse sentido, uma classe de algoritmos de grande relevância hoje são os algoritmos bioinspirados, isto é, aqueles que visam imitar algum aspecto de processos biológicos. Exemplos importantes são o algoritmo de “otimização por colônia de formigas” (Dorigo; Birattari; Stützle, 2006), que visa simular o comportamento destas para resolver problemas diversos como o “problema do caixeiro viajante” e as “redes neurais artificiais” (McCulloch; Pitts, 1943; LeCun; Bengio; Hinton, 2015), principal componente das tecnologias de inteligência artificial contemporâneas como o Dall-E e o ChatGPT da Open AI, inicialmente inspiradas no funcionamento do sistema nervoso de animais e hoje utilizado para resolver as mais diversas tarefas, tais quais: classificação, geração e representação (de imagem e de texto, por exemplo). O processo de dupla tradução envolvido no desenvolvimento desses algoritmos que passa do comportamento de seres para observações-descrições biológicas e, por fim, modelos matemático-computacionais, não é direto e nem neutro (sobre a não-neutralidade da prática tecnocientífica, conferir, por exemplo: Latour, 2011). Nele, há a pretensão de extrair da atividade atual de existentes humanos ou mais-que-humanos, suas virtualidades, sua informação (Garcia dos Santos, 2003a; 2003b). Esse processo cria representações que instrumentalizam as potências desses existentes para a resolução de problemas computacionais que visam, principalmente, a acumulação capitalista. Nesse contexto, este trabalho parte de um corpus de artigos científicos de algoritmos bioinspirados - incluindo “redes neurais artificiais”, “enxame de partículas” (Kennedy; Eberhart, 1995), “forrageio de bactérias” (Passino, 2002), “enxame de abelha” (Karaboga, 2005), “colônia de formigas” e “algoritmo de morcego” (Yang; Gandomi, 2012) - para analisar como os próprios cientistas descrevem a passagem dos seres concretos para os modelos abstratos. O objetivo é descrever as traduções operadas por cientistas, relacionando esse processo com a noção de captura das virtualidades inerentes a estes seres.