Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 045: Economias, políticas e territorialidades indígenas e negras: cenários de conflito, mudança social e identidade étnica
Discutindo o fenômeno da racialização no Brasil a partir de cinco chaves conceituais
Este trabalho se dedicará a entender o fenômeno da racialização sob cinco perspectivas teóricas diferentes, de modo a delimitar uma abordagem que se faça satisfatória para a análise da questão da identidade negra no campo da antropologia.
A primeira dessas chaves será a concepção de cultura com aspas, da antropóloga Manuela Carneiro da Cunha, que fará o exercício de alteridade quanto ao conceito de cultura, demonstrando que a mesma também pode ser apropriada e ressignificada por aqueles que antes eram considerados os nativos. Dessa forma, os sujeitos da cultura podem pensá-la reflexivamente e manejá-la intencionalmente sem que essas ações sejam entendidas como falsas ou inautênticas.
O Encontro Colonial de Tal Assad auxilia na interpretação da produção intelectual atual elaborada por autores negros, que buscam construir novos sentidos para a identidade negra em uma sociedade pós-colonial. A partir desse encontro consciente com o passado, é possível identificar as disputas discursivas que ocorrem cotidianamente nas mídias e nos coletivos político-identitários. Para ele, é chegada a hora em que as comunidades oprimidas falem por si mesmas ao dominador.
O conceito de fronteira étnica em Fredrik Barth é fundamental para um estudo que pretenda compreender as tensões objetivas e subjetivas possivelmente encontradas nas relações raciais entre brasileiros. Sob essa ótica, as fronteiras entre brancos, pardos e pretos passam a ser tão importantes quanto o conjunto de símbolos que demarcam internamente cada um desses grupos. O autor destaca que, com o passar do tempo, essas fronteiras identitárias podem ser reforçadas, deslocadas ou até mesmo se apagar.
Didier Fassin escreve sobre o complexo processo de corporificação da raça, crucial para a racialização dos indivíduos e dos povos, que se faz na tríade sistêmica descrita pelo autor entre o sujeito que denomina, aquele que é denominado, e a testemunha que exterioriza esse processo relacional. O fundamento da racialização estaria posto na sensação permanente de se olhar através do olhar do outro.
Kabengele Munanga aposta no conceito de sincretismo cultural como forma de assumir que na realidade brasileira há um multiculturalismo que necessita ser reconhecido e ouvido em suas demandas. A ideia de unidade miscigenada aqui não cabe, sendo a diferença o princípio norteador da convivência coletiva. O autor proclama que só chegaremos a um nível maior de justiça social se absorvemos a diferença em nosso sistema
A proposta é que esses cinco autores e seus respectivos conceitos ajudem a construir as bases para a análise do fenômeno da racialização no Brasil, intrínseco ao estudo da temática da identidade negra neste país.
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