Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 086: Povos indígenas e experiências de construções biográficas
A pós-memória de Içá-Mirim: o legado do jovem carijó na Normandia
Binoit Paulmier, também conhecido como Içá-Mirim ou Essomericq, foi o filho do cacique carijó Arosca levado
à França no século XVI a bordo do navio LEspoir. O combinado entre o capitão e o cacique, dizem, era o
jovem aprender o manuseio das armas de fogo e ser devolvido ao seu povo passadas vinte luas. Entretanto, o
trato não pode ser respeitado devido a um incidente com o navio, fazendo do jovem Essomericq o primeiro
indígena a pisar na Normandia e ai viver. Tendo se tornado um aristocrata, a vida do batizado Binoit
Paulmier ilustra o que poderia ter sido o bom-contato, tendo vivido 95 anos e deixado um legado no
território francês (Perrone-Moisés, 1999). Apesar de não possuímos documentos do próprio Essomericq, as
produções da pós-memória dos seus descendentes servem de ponto de partida para a releitura dessa história:
uma do seu bisneto, o abade Jean Paulmier (1673), e outra de Dorothée de Linares (2018), catorze gerações
posteriores. Os estudos da memória e as pesquisas que vêm sendo realizadas no âmbito da pós-memória atuam
como importante base teórica para mapearmos as significações que atravessam os discursos presentes em
diferentes regimes de memória do período colonial. Com efeito, acreditamos, por meio destes documentos,
vislumbrar os impactos da presença de um indígena carijó na vida dos seus descendentes, além de lançarmos
luz sobre uma situação extraordinária: a de um indígena brasileiro que se tornou aristocrata e deixou um
longo legado às gerações futuras.
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