Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 062: Fronteiras e fabulações: antropologias especulativas e experimentos etnográficos
Gilead é logo ali: etnografando futuros
A proposta de trabalho parte da ideia de que a literatura é uma antropologia especulativa e busca
explorar as potencialidades antropológicas da ficção científica, tomando O conto da aia, romance distópico
da autora canadense Margaret Atwood, enquanto dispositivo imaginativo para examinar a própria natureza
humana. Como pesquisa de doutorado em andamento, meu objetivo aqui é apresentar para discussão interesses
temáticos e direcionamentos a partir dos elementos ficcionais criados pela autora e sua relação com nossa
sociedade, comparativamente, buscando perceber o que existe de etnográfico na tecitura de um romance de
ficção científica. A exemplo do que propõe Roberto DaMatta, é possível considerar uma obra literária como
narrativa mítica, momento privilegiado em que a sociedade fala sobre si própria. Os mitos fornecem
perspectivas sobre a compreensão do mundo e, considerando o romance uma derivação dos mitos, é possível
adotar a narrativa ficcional como a própria sociedade percebida por meio de um código específico. O romance,
então, examina a existência humana, o campo de suas possibilidades o que o ser humano pode fazer ou se
tornar, não se limitando a metáforas. Quando colocamos em perspectiva a ficção científica então, é possível
perceber que suas alteridades radicais e até seus cenários de devastação iluminam relações humanas
constituindo um tratamento específico do mundo: são realidades alternativas que relativizam a nossa própria,
colocando em evidência nossos anseios, temores ou desejos.
© 2024 Anais da 34ª Reunião Brasileira de Antropologia - 34RBA
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