ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 062: Fronteiras e fabulações: antropologias especulativas e experimentos etnográficos
Gilead é logo ali: etnografando futuros
A proposta de trabalho parte da ideia de que a literatura é uma antropologia especulativa e busca explorar as potencialidades antropológicas da ficção científica, tomando O conto da aia, romance distópico da autora canadense Margaret Atwood, enquanto dispositivo imaginativo para examinar a própria natureza humana. Como pesquisa de doutorado em andamento, meu objetivo aqui é apresentar para discussão interesses temáticos e direcionamentos a partir dos elementos ficcionais criados pela autora e sua relação com nossa sociedade, comparativamente, buscando perceber o que existe de etnográfico na tecitura de um romance de ficção científica. A exemplo do que propõe Roberto DaMatta, é possível considerar uma obra literária como narrativa mítica, momento privilegiado em que a sociedade fala sobre si própria. Os mitos fornecem perspectivas sobre a compreensão do mundo e, considerando o romance uma derivação dos mitos, é possível adotar a narrativa ficcional como a própria sociedade percebida por meio de um código específico. O romance, então, examina a existência humana, o campo de suas possibilidades — o que o ser humano pode fazer ou se tornar, não se limitando a metáforas. Quando colocamos em perspectiva a ficção científica então, é possível perceber que suas alteridades radicais e até seus cenários de devastação iluminam relações humanas constituindo um tratamento específico do mundo: são realidades alternativas que relativizam a nossa própria, colocando em evidência nossos anseios, temores ou desejos.