Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 012: Antropologia das Emoções
Silêncios e Humilhações: O Papel da Retórica Emocional na Construção da Culpabilidade da Vítima em Casos de Feminicídio no Brasil
Este trabalho analisa o fenômeno do feminicídio (Segato, 2005) a partir da humilhação social como categoria de análise socioantropológica, sob o pressuposto de sua dinâmica racional de poder (Decca, 2005) enraizada na sociedade brasileira. A culpabilização da vítima e o processo de revitimização têm sido, historicamente, expedientes comuns impactantes nos resultados judiciais que, de certo modo, contribuem para o favorecimento dos réus, a exemplo de usos do argumento de assassinato em defesa da honra (Corrêa, 1983). Sob este mote, interessa-nos investigar a humilhação de gênero por meio de práticas de culpabilização de hábitos social e comportamental das próprias vítimas em processos penais. Com o auxílio da análise de discurso, focalizamos os atos performativos das defesas dos réus em autos de processo públicos, em vídeos de sessões de julgamentos no Tribunal do Júri, traduzidas pela retórica emocional (Lutz, 1990) em apelos sentimentais e moralizantes. Baseamos, também, em coberturas da imprensa, a partir da seleção de casos de feminicídios tentados ou consumados ocorridos no Brasil. Como critério de seleção consideramos a existência de vítimas mais potenciais, portanto mais estigmatizadas (Goffman, 1980), como as trabalhadoras do sexo, as mulheres transexuais e mulheres usuárias de drogas ilícitas. Nesses casos, inferimos à eficácia simbólica das performances condenatórias a partir de argumentos moralizantes que contribuem para incremento de silenciamentos e sofrimento social das mulheres (Das, 1985).
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