Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 052: Estudos de Cultura Material: contribuições da Antropologia e da Arqueologia em um mundo mais-que-humano
O Papel da Produção Material na Ressurgência Étnica Borum-Kren
A fim de compreender os processos de aprendizagem que envolvem a etnogênese indígena Borum-Kren,
busca-se refletir o modo ao qual a lida com as materialidades está relacionada com esta ressurgência étnica
a partir da premissa de que as coisas fazem pessoas assim como as pessoas fazem coisas. Portanto,
pretende-se lançar uma reflexão sobre o papel das coisas bem como da experimentação que diz respeito à
produção de materialidades neste contexto. Os Borum-Kren são indígenas do tronco macro-jê, localizados em
Minas Gerais na região do alto Rio Doce, alto Rio das Velhas e alto Rio Paraopeba. Ressaltando que a luta
pelo reconhecimento etnico e reafirmação da identidade indígena está relacionada a um posicionamento
contrário à predação do ambiente neste território que é afetado pela exploração minerária desde o século
XVIII. Do ponto de vista da antropologia, podemos observar que há nas experimentações um processo de
aprendizagem coletiva. Para compreender esses processos, adota-se uma abordagem etnográfica que investiga as
práticas do coletivo e a relação entre as biografias das pessoas e das coisas, reconhecendo o entrelaçamento
entre cultura material e identidade étnica. Ao acompanhar este coletivo torna-se possível perceber que a
produção de materialidades ocupa um lugar especial na ressurgência, embora nem todos os integrantes do
coletivo estejam experimentando técnicas e tecnologias. No entanto, as pessoas do coletivo são incentivadas
a experimentar o feitio de artefatos líticos como lascamento para obter pontas de flecha, facas e afins,
polimento para confecção de machados e a feitura de soquetes utilizados na produção de fogo por fricção. Bem
como a própria produção de fogo que conta com técnicas variadas (arco e broca, broca de mão, arado, etc). Há
também o interesse em produções de variadas peças cerâmicas, sobretudo inspiradas nas tradições Una e
Aratu-Sapucaí presente no contexto territorial. Pode-se dizer que o interesse por peças cerâmicas
possibilitou um ponto de encontro entre o povo Borum-Kren e figuras acadêmicas, possibilitando assim uma
troca de conhecimentos e saberes. A partir da demanda do próprio coletivo iniciou uma parceria entre os
Borum-Kren e o GESTO-UFMG, tornando possível o intercâmbio entre experimentadores dos campos da antropologia
e arqueologia e os experimentadores ressurgentes que trazem consigo o anseio de aprender para fomentar e
fortalecer a identidade étnica a partir do saber-fazer. Do mesmo modo que as pessoas criam conexões com os
objetos, os objetos também criam conexões entre as pessoas. Neste sentido, nota-se que ao fazer materiais
inspirados naqueles feitos outrora, o coletivo indígena soma elementos que colaboram para reafirmar sua
identidade étnica.
© 2024 Anais da 34ª Reunião Brasileira de Antropologia - 34RBA
Associação Brasileira de Antropologia - ABA