Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 059: Experiências e dinâmicas de participação indígena em processos eleitorais e em cargos nos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário no Brasil e na América Latina
Voto indígena e não-indígena: o comportamento eleitoral em Benjamin Constant - AM nas eleições de 2016 e
2020
Este é um estudo comparativo do comportamento eleitoral em que os votos dos não indígenas e indígenas
são componentes de análise da cultura política no município Benjamin Constant. Destacamos o voto indígena em
decorrência da emergência étnica dos Kokama e Kambeba na região do Alto Solimões e o protagonismo Tikuna no
campo político via organizações e movimento indígena. O desafio e a dificuldade impostos para a análise do
comportamento eleitoral residem no fato das fronteiras étnicas e sociais dos eleitores indígenas e não
indígenas serem difusas e, em hipótese, a cultura política na região. Para analisar a questão centramos
atenção nas seções instaladas em Terras Indígenas que em tese oferecem bases para refletir sobre a natureza
dos votos em candidatos a vereadores indígenas, denominado voto étnico, e por extensão os que não se
enquadram. Trabalhamos os dados quantitativos recolhidos em repositórios do TRE-AM e associações. Levantamos
locais de votações, total de eleitores, votos em cada seção e votos para cada candidato nas eleições de 2016
e 2020 e a autodeclaração ao TRE-AM. Nos pautamos no paradigma hermenêutico, assim o empírico e a ação em
seu contexto histórico se situaram no âmbito da cultura entendida pelo viés semiótico. Ao buscar compreender
o sentido da ação política almejamos encontrar o significado presente no ato de votar em sua dimensão
cultural (Geertz, 1989). Adotamos o conceito de clientelismo para pensar a dinâmica política do voto. As
atitudes clientelistas são variáveis que permitem analisar os sistemas políticos em sua amplitude e
dinâmica, assim afirmamos que o não controle do voto não significa o fim do clientelismo, as ofertas no
mercado político retroalimentam e sedimentam a cultura clientelar a partir da assimetria política, conforme
diz D'ávilla Filho (2007). Com o aumento de candidaturas indígenas é cada vez mais sintomático que os
partidos busquem ampliar a inserção de indígenas em seus quadros. Todavia notamos que os votos étnicos são
pulverizados pois os indígenas estão inseridos em partidos diversos, o que dispersa os votos. Os candidatos
indígenas com votos expressivos decorrem da canalização, em geral, dos locais de votação serem direcionados
para determinado candidato. Os dados confirmam que há dimensão étnica no ato de votar. Todavia, sabemos que
é uma dimensão política e ideológica, assim fica patente que os indígenas as inserem no mercado eleitoral. A
mobilidade étnica expressa nos votos abre espaço para problematizar variações ideológicas entre as
fronteiras políticas; para esta devemos considerar a agregação de indígenas em partidos cujas bandeiras
políticas são publicamente contrárias às pautas indígenas. Os números têm alcance, mas não alcançam toda as
dimensões, todavia nos indicaram caminhos a seguir.
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