Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 069: Maternidades Violadas: desigualdades, violências e demandas por justiça e direitos
Maternidades marginalizadas: saúde, cuidado e o direito de maternar em meio às violações do sistema
prisional em Manaus
Ao me aproximar da discussão sobre encarceramento pude perceber as diversas relações de gênero que se
formam ao redor do sistema prisional, seja entre mulheres presas ou mulheres que são aprisionadas
indiretamente quando algum familiar torna-se uma pessoa privada de liberdade. Dentro do cárcere são as
mulheres que menos recebem visitas, que tem suas relações afetivas profundamente marcadas pelo sexismo, que
tem seus direitos sexuais e reprodutivos negados e que são afastadas de seus filhos quando são mães. Fora do
cárcere, são as mulheres que assumem o papel do Estado ao levar alimentos e itens básicos para dentro dos
presídios pensando no bem estar da pessoa presa. São essas as mulheres que passam por situações vexatórias e
rotinas desgastantes para visitar seus entes aprisionados. A racialização da punição se entremeia com as
questões de gênero, especialmente a maternidade, que atravessa a experiência da grande maioria das mulheres
encarceradas e das mães de pessoas presas, ou as familiares (esposas, irmãs, tias) que também são mães e tem
a maternidade profundamente afetada pela violência estatal. Quem pode ser mãe? Quais maternidades podem ser
celebradas e vivenciadas sem que o Estado intervenha? Este trabalho tem como objetivo investigar e discutir
as complexidades interseccionais e os desafios enfrentados por mulheres envolvidas no contexto prisional em
Manaus, abordando especificamente as dimensões de cuidado, saúde e a luta pelo direito de maternar ancorada
nas relações afetivas que compõem os movimentos sociais de familiares de pessoas presas. Para essa
discussão, pretendo realizar um estudo etnográfico com as mulheres que tem/tiveram o exercício da
maternidade afetado pelo cárcere, sejam as mães encarceradas, mães de pessoas presas, esposas que também são
mães ou outras familiares. Como essas mulheres reivindicam o direito de maternar? Quais são as relações
étnico-raciais que se tecem nas tramas do encarceramento e as violências que ele produz? Como as relações
afetivas e de gênero se inserem na luta pela defesa dos direitos? Como elas produzem cuidado em saúde neste
contexto? O trabalho de campo será realizado em Manaus por meio do acompanhamento das atividades realizadas
pelo Coletivo Entre Elas: defensoras dos Direitos Humanos, que atua na luta pela defesa dos direitos de
pessoas privadas de liberdade em Manaus.
© 2024 Anais da 34ª Reunião Brasileira de Antropologia - 34RBA
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