Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 038: Criatividades indígenas na transformação da educação escolar
Arandu sentir o tempo na pessoa: Pedagogias nativas na construção de corpos
Esta pesquisa em andamento visa discutir algumas experiências de escolarização Guarani no Rio Grande do Sul, colocando em perspectiva as escolas autônomas nas retomadas de terras na mesma região. A centralidade da investigação reside na adoção de metodologias nativas para compreender como a construção do conhecimento Guarani se desenvolve através do corpo e da experiência vivida.
Utilizando uma abordagem etnográfica, o estudo se baseia em textos etnográficos de Sandra Benites, incorporando trabalhos sobre educação de outros intelectuais indígenas, como Célia Xakriabá, Daniel Munduruku e Gersem Luciano Baniwa.
O histórico da Educação Escolar Indígena no Brasil nos remete ao contato do colonizador, no qual as primeiras escolas foram criadas para atender às demandas da colonização, desde a catequização, vale salientar as Missões Jesuíticas Guarani, passando pela política de Estado integracionista e assimilacionista, até a redemocratização, com marco na Constituição de 1988, que regulamenta o Ensino Escolar Indígena com diretrizes de igualdade e respeito à diferença.
Gersem Luciano Baniwa, enfatiza que o indígena contemporâneo busca o ensino escolar como um modo de fortalecimento na luta por direitos e cidadania, num processo de consciência histórica (LUCIANO, p. 46, 2019).
Nesse sentido, ressalto as experiências das escolas autônomas, nas quais as comunidades criam as escolas sob seus próprios termos, como na Escola Autônoma Tekó Jeapó, que representa a realização de um sonho para o Cacique André Benites, responsável pelo levante para retomar as terras em Maquiné RS, na área da extinta Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária. Nas palavras do Cacique, "sonhar a escola" (André Benites, Retomada, 2019), considerando seu modo de vida e suas próprias pedagogias nativas. Em sua fala: "Retomada não é só território, não é só da terra, do lugar, retomada, é retomada da vida, a gente voltou a viver" (André Benites, Retomada, 2019).
A pesquisa destaca uma filosofia educacional comunitária, evidenciada nos cuidados compartilhados, desde a fase pré-gestacional até a cerimônia do batismo (Nhemongarai). Os rituais de pós-parto, dedicados à proteção da criança e de seu espírito (nhe'é), são elementos essenciais dessa abordagem, que fundamenta a educação na experiência e em práticas de construção da pessoa. Isso culmina na fluidez da noção de pessoa, com ênfase na centralidade da corporeidade moldada por relações sociais e espirituais, em interconexão com outros seres, humanos e mais que humanos, em mútua relação com o cosmos e a natureza, participando do processo educativo e de construção de conhecimento. Finalizo com o exemplo da palavra guarani "arandu", comumente traduzida como "conhecimento" apresentada como uma relação temporal que atua no corpo da pessoa.