Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 098: Som, música e eventos: experimentações etnográficas
As Rainhas Makuas: dançar e cantar tufo pela ótica da educação e corporeidade
Esta apresentação tem como objetivo abordar as estratégias pelas quais os aconselhamentos cantados,
chamados em idioma makua de ikanos, estão presentes no cotidiano das Rainhas de Tufo, figura central desta
prática performativa, predominantemente feminina, disseminada na região norte de Moçambique, no continente
africano. A dança tufo faz parte de uma ética de reciprocidade que envolve o dançar-cantar, quem assiste à
dança e quem a proporciona, na qual a dinâmica de convidar, receber e aconselhar é extremamente importante.
O dinamismo ideal do tufo, enunciado muitas vezes pela expressão a dança que anima corresponde a boa
interação das partes que compõem o todo: as habilidades corporais das dançarinas, as letras das canções
elaboradas de acordo com a ocasião que foram convidadas, a interação entre a Rainha, as dançarinas e os
músicos (chamados em lingua local de anatomboros ou musiqueiros), as capulanas, tecidos escolhidas para o
evento serem boas e bonitas, os tambores (ikanos) estarem bem apertados e a interação com o público
presente. A sociabilidade dos corpos humanos e não humanos que se conectam numa performance que tem como fim
animar, receber e aconselhar é o que define um bom tufo. Os conselhos, imbricados nas canções e na dança,
também norteiam a sociabilidade de uma associação, prática protagonizada pelas Rainhas, que possui estreita
relação com ideia de educação dos sujeitos presentes dos ritos de iniciação, tanto femininos quanto
masculinos, nos quais as Rainhas, em seu dialogo dançado com os tambores (ikoma) possuem um papel central na
manutenção desta prática.