ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 025: Antropologia(s) Contemporânea(s) e Sofrimento Psíquico
Perspectivismo e cosmopolíticas na saúde mental em contextos indígenas
Carlos Sérgio de Brito Moreira Júnior (UFPA)
Pesquisas relacionadas à saúde indígena são de vital importância para auxiliar na organização de políticas de atenção a estes povos. A saúde mental em contextos indígenas, especificamente, ainda é um campo acadêmico novo, mas que tem se mostrado promissor e levantado questões cruciais que atingem diretamente o cuidado com a saúde dos povos indígenas. A saúde mental como conceito originado diretamente da psiquiatria, uma ciência ocidental moderna, encontra dificuldades ao ser traduzida para o contexto dos povos ameríndios, que possuem epistemologias outras e formas diferentes de conceber as relações entre o que entendemos por mente, corpo, natureza, humanidade, assim como psíquico e espiritual. O que para a ciência poderia ser entendido como um quadro de sofrimento psíquico, para os povos indígenas, na maioria das vezes, tratam-se de fenômenos de origem espiritual. Frequentemente, outros seres além dos humanos, como espíritos e entidades donas dos animais e dos lugares, são evocados e passam a fazer parte das narrativas sobre o acometimento de quadros que poderíamos classificar como de ordem da saúde mental, agredindo as pessoas e desestabilizando-a espiritualmente, resultando em seu adoecimento. Neste sentido, este trabalho propõe visualizar a saúde mental no contexto dos povos indígenas a partir das lentes de dois conceitos que são cruciais ao se trabalhar com realidades onde outros além dos humanos passam a fazer parte importante da análise e a influenciar na saúde das pessoas: o primeiro destes é o perspectivismo de Viveiros de Castro, que permite um vislumbre de como as cosmologias ameríndias são construídas e das relações que se estabelecem entre os humanos e os outros seres habitantes do cosmos; o segundo é o conceito de cosmopolíticas pensado por Isabelle Stengers, que propõe que nos desfaçamos de nossas certezas construídas pelo pensamento científico para permitir pensar ontologias em que os outros-que-humanos passam a fazer parte importante das diversas categorias da vida das pessoas, mais especificamente, no caso deste trabalho, de sua saúde.