ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 098: Som, música e eventos: experimentações etnográficas
Formulações etnográficas - vadiando com conceitos
O trabalho intitulado Formulações etnográficas - vadiando com conceitos é fruto da pesquisa minha desempenhada no doutorado, onde discuto musicalidade, corporeidade e identidade nas rodas de Capoeira Angola. O presente trabalho é uma etnografia que envolve uma imersão no campo que venho há alguns anos coletando dados de pesquisa por meio da observação participante, anotações e gravações de audio visual da realização das rodas de Capoeira Angola. O presente trabalho busca apresentar um conceito de pesquisa chave para a realização da minha tese de doutorado, nomeada de vadiação etnográfica. Vadiação etnográfica é o conceito que surge com o objetivo de evidenciar os múltiplos lugares que por muitas vezes o pesquisador tem que se flexibilizar para dar conta da sua pesquisa, em outras palavras é a circunstância social de viver a experiência por completo (cantar, tocar, jogar, ouvir, afinar instrumentos, receber convidados, etc) ao mesmo tempo produzir a ciência com seu rigor científico de coleta de dados e armazenamentos (anotações em campo, gravações, entrevistas, etc). Vadiar na Capoeira Angola é um termo que remete á prática do jogo, onde as expertise dos seus praticantes entram na roda para bater sem pegar, derrubar sem tocar, falar sem dizer. Na roda de Capoeira Angola a vadiação é de lei, mas a lei não é o Código Penal de 1890 na primeira República e muito menos o artigo 59 do decreto lei de 3.688 de 1941 que reforçou a criminalização de pessoas negras que estivessem reunidas. A vadiação é fundamento da prática da Angola, que por sua vez é envolvida por uma atmosfera musical que estimula os seus praticantes durante toda sua prática. Compreendo que existe um processo de receptação dos sons aos corpos através de um processo de estimulação de vibrações nervosas, afetadas por ecos sonoros propagados (LANGER, 2006). Assim acontece nos cantos e instrumentos da Capoeira Angola, que atingem diretamente os corpos daqueles que integram e buscam entender o significado daquela prática cultural. Os corpos se movem a partir das provocações tonais e rítmicas, recebendo estímulos vibracionais, interpretados consciente ou inconscientemente. GIL, A.C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 1ed- São Paulo: Atlas, 1987 GILROY, P. O Atlântico Negro. São Paulo: Editora 34, 2001. LANGER, Susanne K. Sentimento e forma: uma teoría da arte desenvolvida a partir da filosofia em nova chave. Trad.: Ana M. Goldberger Coelho e J. Guinsburg. São Paulo: 2006