ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Trabalho para SE - Simpósio Especial
SE 21: Patrimônios culturais em países de língua portuguesa: decolonialidade e reparação no contexto contemporâneo
O Museu Lusófono da Diversidade Sexual e o enfrentamento à precarização patrimonial
O Museu Lusófono da Diversidade Sexual e o enfrentamento à precarização patrimonial. Temas como os patrimônios LGBTQIAPN+ e a emergência de museus ligados à diversidade sexual e de gênero têm ampliado o “vocabulário do patrimônio” (Gonçalves, 2012) e provocado debates sobre reparação histórico-patrimonial de grupos sociais alijados da história oficial, da gerência dos arquivos (Foucault, 2013), dos espaços de aparição (Butler, 2019) e da maquinaria patrimonial (Jeudy, 2005). Nos últimos anos, a população LGBTQIAPN+ têm também ocupado a internet, criando museus virtuais dedicados a evidenciar e salvaguardar os vestígios históricos e as narrativas contra-hegemônicas, além de celebrar marcos temporais, personagens e lugares de suas referências. Um dos exemplos emblemáticos desse movimento é o Museu Lusófono da Diversidade Sexual (MLDS), instituição virtual que tem a premissa de “resgatar a história, reafirmar o presente e desenhar o futuro das populações LGBT+ de dez países e regiões que tem como idioma oficial a língua portuguesa” (site). Nesta comunicação, intento discutir como a proposta do MLDS se converte no enfrentamento à ideia de museu como tecnologia de poder desenvolvida para a manutenção do pacto hétero-cisgênero que promove a precarização da vida das pessoas LGBTQIAPN+. Nesse sentido, proponho a noção de “precarização patrimonial” como constitutiva da experiência social da população LGBTQIAPN+ nos países de língua portuguesa. Logo, inspirado em Butler (2015; 2019), penso na inscrição androcêntrica, cis-heteronormativa e LGBTfóbica da maquinaria patrimonial, por conseguinte, na incidência de suas ações para a população LGBTQIAPN+, como o seu apagamento histórico e a interdição ao conhecimento público de suas memórias. Como efeito advertido, tais operações transformam um grupo social em sujeitos de cultura não patrimonializável e, por conseguinte, não musealisável. Parece interessante, desse modo, pensar o enfrentamento à precarização da vida a partir dos investimentos do ativismo memorial LGBTQIAPN+ (Soares, 2020) em se infiltrar na maquinaria patrimonial para reconhecer patrimônios e instaurar museus, esses dispositivos de legitimação de narrativas, produção de verdades e de sacralização dos bens culturais.