Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 089: Quilombos: processos de territorialização, movimentos sociais e conflitos
Conflitos Ontológicos: A cosmopolítica da Comunidade Quilombola do Indaiá
Esse resumo propõe articular as discussões que venho realizando na pesquisa de mestrado de mesmo tema,
que busca refletir sobre os conflitos territoriais que as comunidades quilombolas têm vivenciado. Ele se
desenvolve sob a ótica da ameaça à existência desses grupos, como dos entes não humanos, enquanto um
conflito ontológico entre o que pode ou não existir (emergir) nos territórios quilombolas, diante da
ontologia moderna hegemônica, que se manifesta por meio das políticas normativas de desenvolvimento. A
partir dessa conjuntura, procura-se tensionar o conceito antropológico, cosmopolítica, para entender se essa
categoria é suficiente para abranger as dinâmicas e elementos mobilizados e criados pela Comunidade
Quilombola do Indaiá (MG) para a construção da luta e da vida.
De acordo com a comunidade, foi em 1970, que passou a sofrer intensamente com as políticas de
desenvolvimento impostas com a introdução das monoculturas de eucalipto na região. Foram apontadas
consequências ambientais e sociais diversas. Para De Almeida (2013), as intervenções desenvolvimentistas que
se impõe em um povo e um lugar trata-se de um ato de guerra ontológica, que destrói redes-de-vizinhança e
relações com os não humanos e coloca no lugar delas redes-de-mercado.
Nessa dinâmica, analisa-se que baseado na ontologia naturalista (Descola,2016) as políticas
desenvolvimentistas, consideram os recursos naturais enquanto reserva. Também, opta-se sistematicamente
pela exclusão e extermínio de comunidades quilombolas e não-humanos, pela destruição e não demarcação de
territórios e patrimônios imbuídos de história e valores culturais.
Nesta conjuntura, as comunidades passaram a travar batalhas para se defender, realizando mobilizações,
organizações, estruturas criativas e alianças com movimentos sociais, universidades e elementos não humanos
(natureza, os rios e as plantas). Stengers (2003) recomenda a categoria de cosmopolítica para rastrear os
processos pelos quais os grupos apresentam os estatutos das realidades (humanos e coisas) na arena política.
A proposição cosmopolítica se afirma enquanto uma disposição ao reconhecimento e ao diálogo, pois, como ela
explica, o termo cosmopolítica é o modo pelo qual se atualiza a copresença problemática de práticas
(Stengers, 2003, p. 355)
Dessa forma essa pesquisa procura relacionar as discussões sobre conflitos ontológicos e comunidades
quilombolas, tensionando o conceito cosmopolítica para aproximar a discussão do universo da Comunidade
Quilombola do Indaiá. Busca-se compreender se é possível operacionalizar esse conceito teórico e abstrato em
indicadores empíricos de como ele atua na vida da Comunidade, mapeando e identificando os elementos que são
mobilizados e transformando as próprias categorias nativas em explicativas.