Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 025: Antropologia(s) Contemporânea(s) e Sofrimento Psíquico
Mal estar escolar e a expectativa de afinação da subjetividade
Neste ensaio reflito sobre sofrimento psíquico no contemporâneo desde algumas considerações transversais de uma etnografia que realizei em uma escola pública do Rio de Janeiro. Nela observei, ao longo de um trabalho de campo diário de um ano e três meses, a incidência de diagnósticos psiquiátricos, a prescrição e consumo de medicamentos psicoativos, episódios de automutilação, dentre outros fenômenos que afetavam estudantes do segundo ciclo do Ensino Fundamental. Aqui pretendo abordar tais incidências entre corpo e subjetividade, explorando disciplinamentos e recalcitrâncias diante do que se apresentava (pelos e para os jovens) nestes contextos. Diante de uma ampla gama de situações, tal como ganham visibilidade dentro de uma escola, é notória a incidência de uma racionalidade psiquiátrica (catalogada em seus manuais de diagnóstico) nas formas como problemas ganham concretude (laudos) e expectativas de tratamento (medicamentos). Nisso, proponho abordar uma expectativa de microafinação tecnocientífica da subjetividade, em tecnologias de microcontrole das formas de ser e estar, no contexto da adequação a um regime corporal e cognitivo (escolar) entre contenções e incitações. Aqui pretendo refletir criticamente sobre como essa conformação dos problemas em diagnósticos e suas prescrições (prêt-à-porter) pode subsumir complexidades e temporalidades que não caibam na realidade produzida a partir dos tratamentos hegemônicos. Não se trata de negar esta realidade, mas explorar analiticamente tanto sua ampla incidência quanto a eventual resistência ou recusa dela por alguns jovens, concebendo esses fenômenos como uma entrada para pensar sobre subjetivações no contemporâneo. Exploro analiticamente também os efeitos dessa ampla incidência, na forte adesão a alguns diagnósticos mais comuns dentro da escola (como TDAH e TOD), que eventualmente parecem ou pretendem dar sentido a processos complexos na subjetivação escolar, tais como problemas de atenção (que aprofundei na tese) e comportamento. Como se a subjetividade passasse a ser afinada (bioquímica ou tecnocientificamente) de acordo com esses diagnósticos.
© 2024 Anais da 34ª Reunião Brasileira de Antropologia - 34RBA
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