ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 074: Modos de aprender e de ensinar a antropologia: desafios contemporâneos da formação e da escrita em antropologia
A escrita antropológica do sofrimento: fragmentos, métodos e novas epistemologias
Neste trabalho desenvolvo uma discussão que objetiva compreender as possibilidades da escrita como parte indispensável das disputas e negociações do fazer antropológico. O que fica em evidência é que a antropologia está constantemente em movimento e não apenas as zonas de significação estão sendo renegociadas, mas também seus métodos e epistemologias. Se novos campos passam a ser possíveis, novas pautas chegam na pesquisa e os métodos precisam também ser atualizados para que o diálogo e as relações tenham espaço no corpo do texto. À luz das interpretações de Veena Das (2020), venho propondo o manejo da escrita não apenas como um recurso de sistematização de ideias, mas como uma técnica flexível e sensível a ser estudada e compartilhada. Compreendendo que contextos diferentes demandam escritas diversas, tenho como foco um estudo sobre a escrita do sofrimento, que passa ser necessária com a entrada de novos campos e interlocuções na antropologia. A partir de uma abordagem autoetnográfica, trago relações que qualifiquei como relações extremas, marcadas por uma dinâmica de esgarçamentos contínuos vividos num certo domínio do mundo das drogas. A fragmentação do campo se apresentou tanto pelas relações quanto pelos métodos, que envolvem relatos, memórias e brechas de coisas que não são ditas. A partir do acionamento dessas interlocuções, apresento algumas dinâmicas que aparecem nas relações entre uma rede de mulheres adultas e suas filhas crianças. Nessas relações, marcadas pelo sofrimento da drogadição, são desenvolvidas estratégias de vivência e sobrevivência marcadas por dinâmicas específicas de cuidado, de acionamento de identidades, de regulação de corpos, anestesia e recuperação. A discussão deste trabalho traz a escrita como uma das minhas principais estratégias de pesquisa e, para isso, aciono contos e personagens que me ajudaram a enfrentar barreiras de sofrimento na pesquisa e participaram, como verdades ficcionadas, da apresentação e formulação das análises, dos conflitos, dos tempos, sentimentos, dores e motivações que atravessam e são anunciadas.