Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 074: Modos de aprender e de ensinar a antropologia: desafios contemporâneos da formação e da escrita em antropologia
A escrita antropológica do sofrimento: fragmentos, métodos e novas epistemologias
Neste trabalho desenvolvo uma discussão que objetiva compreender as possibilidades da escrita como parte
indispensável das disputas e negociações do fazer antropológico. O que fica em evidência é que a
antropologia está constantemente em movimento e não apenas as zonas de significação estão sendo
renegociadas, mas também seus métodos e epistemologias. Se novos campos passam a ser possíveis, novas pautas
chegam na pesquisa e os métodos precisam também ser atualizados para que o diálogo e as relações tenham
espaço no corpo do texto. À luz das interpretações de Veena Das (2020), venho propondo o manejo da escrita
não apenas como um recurso de sistematização de ideias, mas como uma técnica flexível e sensível a ser
estudada e compartilhada. Compreendendo que contextos diferentes demandam escritas diversas, tenho como foco
um estudo sobre a escrita do sofrimento, que passa ser necessária com a entrada de novos campos e
interlocuções na antropologia. A partir de uma abordagem autoetnográfica, trago relações que qualifiquei
como relações extremas, marcadas por uma dinâmica de esgarçamentos contínuos vividos num certo domínio do
mundo das drogas. A fragmentação do campo se apresentou tanto pelas relações quanto pelos métodos, que
envolvem relatos, memórias e brechas de coisas que não são ditas. A partir do acionamento dessas
interlocuções, apresento algumas dinâmicas que aparecem nas relações entre uma rede de mulheres adultas e
suas filhas crianças. Nessas relações, marcadas pelo sofrimento da drogadição, são desenvolvidas estratégias
de vivência e sobrevivência marcadas por dinâmicas específicas de cuidado, de acionamento de identidades, de
regulação de corpos, anestesia e recuperação. A discussão deste trabalho traz a escrita como uma das minhas
principais estratégias de pesquisa e, para isso, aciono contos e personagens que me ajudaram a enfrentar
barreiras de sofrimento na pesquisa e participaram, como verdades ficcionadas, da apresentação e formulação
das análises, dos conflitos, dos tempos, sentimentos, dores e motivações que atravessam e são anunciadas.
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