ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 050: Entre arte e política: articulações contemporâneas em pesquisas antropológicas
Esboço de etnodrama Memórias de educação popular na revolução de Abril
Em 2024 celebram-se 50 anos da revolução do 25 de Abril em Portugal, do momento em que Chico Buarque cantou Sei que está em festa, pá / Fico contente / E enquanto estou ausente / Guarda um cravo para mim”. Várias são as memórias que se ins/escrevem deste momento de ruptura política e social, em diferentes pontos geográficos de luta, resistência e solidariedade e sob diferentes ângulos de observação e registo. Na sequência de uma recolha etnográfica com base em depoimentos orais, memórias escritas e documentação escrita e visual, em paralelo com formação e prática metodológica na transição entre etnografia e teatro documental, propõe-se um esboço de etnodrama sobre memórias de educação popular na revolução portuguesa. Sobretudo até 25 de novembro de 1975, em diversos territórios e contextos organizacionais portugueses houve debates e experiências no âmbito da educação popular, que, com leituras maioritariamente freireanas, interpelavam a educação formal e criavam dinâmicas educativas em contextos não necessariamente escolares. Se parte destas campanhas de educação popular e dinamização cultural, proximamente relacionadas com iniciativas de alfabetização e de valorização do conhecimento e das expressões do povo enquanto classe trabalhadora (ainda não necessariamente instruída, mas visando a sua alfabetização associada ao seu envolvimento cívico e político), eram promovidas e apoiadas por organizações de cunho mais estatal, outras emergiam de comissões de moradores e de trabalhadores e outras organizações associativas com enfoque no campo cultural. É o caso do Centro de Estudos Educação e Cultura (C.E.E.C.), que funcionou no Porto com particular dinamismo na década de 1970. Localizado numa zona com forte presença operária, o C.E.E.C. começou por funcionar como centro de apoio de e para jovens estudantes, os quais expandiram essa base organizacional para repensar as estruturas educativas de inspiração revolucionária e desenvolveram campanhas de alfabetização com diversas comissões de moradores e com os trabalhadores de uma fábrica local de borracha. Neste esboço de etnodrama procura-se apresentar uma história da experiência do C.E.E.C., exemplar de movimentos populares pela educação revolucionária em Portugal, através de um texto dramático com base no real, conjugando abordagens de investigação qualitativa com princípios de prática artística, na senda metodológica proposta por Johnny Saldaña.