Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 044: Dialéticas da plantations e da contraplantation: expropriação, recusa e fuga
Promessas de desenvolvimento: relações e reconhecimentos mais que humanos na/da Vila Saué em Pernambuco
O presente trabalho pretende refletir sobre as relações, tensões e interseções presentes no território da Vila Saué, na qual agentes sociais como o Estado, os latifundiários, se relacionam sócio-historicamente com a comunidade que é formada por familiares e ex-funcionários, entre operários e cortadores de cana-de-açúcar, da Usina Santo André, animais e paisagens da Vila Saué na Zona da Mata Sul de Pernambuco.
A Vila Saué está localizada no município de Tamandaré, que possui cerca de 20.715 habitantes. O município data de 28 de setembro de 1995, mas, sua ocupação é secular, anteriormente habitado pelo povo Kaeté, este território foi passado como posse ainda no século XVI para o coronel João Pais Barreto IV e, mais tarde, enquanto município sofreu a construção da Usina Santo André para a produção de açúcar e álcool fomentando a economia sucroalcooleira.
Durante o ciclo do açúcar, entre os séculos XVI e XVIII, Pernambuco foi o maior exportador de açúcar no mundo, com cerca de 100 usinas. É como parte desse contexto que a Usina Santo André foi construída, sua fundação data de 1913 e sua moagem correspondia a cerca de 150 toneladas de cana que produzia aproximadamente 2.500 litros de álcool em 22 horas (Gaspar, 2009) e, como não havia linha férrea, existia uma dependência latifundiária e esse transporte era realizado por animais humanos e não-humanos. Apesar das diferentes denominações políticas do Estado (Santos, 2015), os constantes etnocídios e explorações de recursos naturais em favor de promessas de desenvolvimento econômico aconteceram e continuam acontecendo através do colonialismo e exploração multiespécie.
É nesse contexto socioeconômico de exploração e domínio colonial que animais, humanos e não-humanos, plantas e paisagens são tomados como mão-de-obra suscetíveis a uma necropolítica da vida contemporânea (Mbembe, 2011), o que interfere em seus modos de reprodução da vida e devastação da vegetação nativa, que admitimos como parte da infraestrutura moderna do Plantationceno (Tsing, 2015), e seus efeitos estão presentes em situações sócio-políticas, econômicas e ecológicas atuais, como a luta pelos seus territórios, a precarização da educação, a intensificação dos processos migratórios, os desastres ambientais, que, mais recentemente, através de enchentes têm assolado a população da comunidade Vila Saué.
A partir disso, é que se pretende nesta apresentação compartilhar dados preliminares de minha pesquisa etnográfica, registrando os impactos de um modelo agrário de desenvolvimento, como também destacar o que entende as pessoas da comunidade Vila Saué sobre a mais nova promessa de desenvolvimento econômico e social através da reativação da Usina Santo André e as mudanças que pode implicar em suas vidas e na paisagem de seus territórios.