Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 031: Artes e crafts: composições, técnicas e trajetos criadores
Poiesis fotográfica: aprendendo através da experiência do próprio fazer.
A presente comunicação investiga o fazer fotográfico como estratégia de produção de conhecimento no contexto de uma residência artística organizada na ilha de São Vicente (Cabo Verde) e voltada para fotógrafo-a-s emergentes dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP). O caráter etnográfico da pesquisa se manifesta através da metodologia de observação participante e da análise qualitativa das estratégias de produção fotográfica desse grupo. Privilegiando a visualidade em sua perspectiva cognitiva e com o objetivo de compreender a produção de fotografias como uma prática significante que descoloniza construções hegemônicas da epistemologia ocidental, essa apresentação propõe uma revisão conceitual do termo poética e a retomada do conceito de poiesis. Enquanto o primeiro representa uma sistematização da sensibilidade ao determinar leis e princípios que guiam a percepção e o entendimento das obras de arte, a poiesis representa uma forma de traduzir a realidade baseada na dinâmica do próprio fazer. Por se definir como a passagem do não-ser à presença (Zambrano 2019, 44), a poiesis possibilita processos de aprendizagem através de estratégias decoloniais e de táticas específicas envolvendo a fabricação de imagens.
Ao enfatizar o carácter processual ao invés do objeto final, propomos a noção de poiesis fotográfica como uma estratégia de literacia visual. Tal noção busca no próprio fazer uma relação cognitiva com a realidade que ultrapasse as particularidades da mídia e questione sua inserção numa história (supostamente linear ou universal) da arte. Assim, exploramos algumas possibilidades da poiesis fotográfica que remetem ao fazer fotográfico como prática transformadora tanto no nível pessoal quanto social. Por exemplo, como uma ferramenta de construção de mundos dotada de caráter autorreflexivo, através do potencial cognitivo que envolve a capacidade imaginativa, na fabricação e transmissão de micronarrativas ou em seu potencial pedagógico como prática emancipadora aplicável às produções artísticas-artesanais. Conclui-se que ao tornar porosa a linha que separa artes e "crafts", a própria ideia de conhecimento (knowledge) é desconstruída em benefício da noção de sabedoria (wisdom) onde o sentido emerge da ritualização do próprio fazer.
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