Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 025: Antropologia(s) Contemporânea(s) e Sofrimento Psíquico
"O Estado é o nosso maior inimigo": formas de defesa contra perseguições na administração pública
A partir da interação com funcionários técnico-administrativos, entre os anos de 2008 a 2015, pude notar a preocupação que tinham com as perseguições no ambiente de trabalho. Assim, escolhi como tema de estudo as situações persecutórias existentes em um tipo autoritário de gestão das instituições. Os funcionários com os quais interagi estavam locados em instituições estatais situadas no estado do Rio de Janeiro. Atentando aos argumentos apresentados por eles, examinei as estratégias que usavam para se defender, evitar ou resistir às perseguições desencadeadas por seus superiores hierárquicos. Analisei cinco estratégias, entre as mais usadas, que indicavam uma aproximação progressiva dos núcleos de maior autoridade dentro do sistema político-estatal. Essas estratégias evidenciaram a grande desigualdade de poder entre os lados envolvidos e o uso do poder coercitivo como meio de gestão. Em consonância, aponto como questão norteadora: como a maioria dos funcionários reagia para sobreviver num ambiente entendido como persecutório? Com o passar do tempo, essas perseguições foram entendidas como assédio moral ou organizacional, que levam a comprometimentos psíquicos, desencadeando uma série de transtornos emocionais, psicológicos e psiquiátricos aos alvos dos assédios.
Nas administrações públicas, os indivíduos se relacionam articulando ou confrontando seus poderes, que são de diferentes intensidades. Este aspecto foi teorizado por Bailey (2001: 71), para quem as burocracias são arenas políticas e os burocratas são competidores em suas organizações. Nesses ambientes, observamos a realpolitik, ou seja, a política que é feita com base em interesses privados de acumular poder dentro das instituições (2001: 6). Neste texto, procurarei abordar as estratégias que os funcionários com os quais interagi usavam para driblar o ambiente opressivo e não serem alvos de perseguições a partir da literatura sobre o campo burocrático, a antropologia das instituições e o assédio organizacional.
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