ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 052: Estudos de Cultura Material: contribuições da Antropologia e da Arqueologia em um mundo mais-que-humano
Reflexões e releituras da Arqueologia e dos Estudos de Cultura Material, a partir dos Estudos Animais e Multiespécies: o reconhecimento científico de capacidades culturais e simbólicas de animais
Pretendo apresentar reflexões sobre minha dissertação de mestrado em Arqueologia (MN/UFRJ), intitulada A Arqueologia para além dos limites antropocêntricos: reflexões sobre a questão da subjetividade, da cultura e da cultura material de animais não humanos, através de diálogos interdisciplinares (2011). Em vista da incipiência, na época, dos estudos animais no Brasil, os principais objetivos eram éticos-políticos: a) reconhecer capacidades culturais/simbólicas dos animais não-humanos, através da análise da sua cultura material, refletindo sobre controvérsias éticas, ontológicas e epistemológicas envolvidas nesse processo de mudança de status ontológico dos animais "ocidentais"; b) repensar a Arqueologia como disciplina não-antropocêntrica e transversal, através do reconhecimento da capacidade de alguns animais de fabricarem ferramentas e cultura material, construírem paisagens e deixarem registro arqueológico; e, c) repensar a Arqueologia da Paisagem como uma abordagem relacional e interdisciplinar, a partir da qual a cultura material é considerada socialmente construída através de relações emaranhadas entre uma multiplicidade de agentes e modos de vida ao longo do tempo. Inicialmente, me fundamentei no enfoque arqueológico pós-processualista da paisagem como cultura material”. Posteriormente, recorri às abordagens ecológicas, relacionais e simétricas da antropologia da ciência, dos estudos de ciência, tecnologia e sociedade (CTS), dos estudos sociais e culturais das ciências e das perspectivas decoloniais. Consultei trabalhos de etólogos e primatólogos, como os japoneses, pioneiros no estudo do comportamento cultural em primatas, com a jovem macaca-japonesa (Macaca fuscata) Imo, na ilha de Kochima, na década de 1950, como a Jane Goodall, pioneira no estudo das capacidades culturais dos chimpanzés na primatologia ocidental, Boesch, Whiten, Mcgrew, De Waal, Toth, Schick, Ottoni, Fuentes, Lestel, entre outros que dissolveram fronteiras epistemológicas entre ciências animais e sociais. Acompanhei etólogos e macacos-prego (Sapajus) pelo Brasil. Em resumo, eu buscava, através da discursividade da cultura material, dar visibilidade para a multivocalidade e múltiplas linguagens e racionalidades do mundo animal. A cultura material produzida por animais não-humanos, nesse sentido, era um instrumento para a descolonização interespecífica, ontológica e epistêmica, dos mundos e atores animais, dominados, subalternizados e socialmente-historicamente excluídos. Meu objetivo, portanto, é revisar essas questões visando preencher lacunas à luz dos novos conceitos, ideias e referências dos estudos animais e multiespécies, que reconhecem os animais como sujeitos históricos e arqueológicos em sociedades ou comunidades compartilhadas, híbridas ou multiespécies.