Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 034: Casas, cozinhas, quintais e suas agências em coletivos quilombolas, sertanejos, pescadores, indígenas e camponeses
Vivendo nas margens e ilhas, para além das margens e ilhas: Quilombolas e Vazanteiros do Médio São Francisco, suas mobilidades e conexões nas lutas, sentidos, terras e águas crescentes
Vazanteiro é uma categoria étnica acionada por designar um modo de vida de sujeitos que construíram sua existência no movimentar das pessoas, lutas, águas, terras e sentidos. Aqui tratamos de comunidades do Médio São Francisco, sendo elas o Quilombo de Praia, Quilombo da Lapinha e Comunidade Vazanteira de Pau Preto, localizadas na margem direita do rio São Francisco, no município de Matias Cardoso-MG e Comunidade Vazanteira de Ilha de Pau de Légua, à margem esquerda do rio, no município de Manga-MG. As margens e ilhas são lugares de viver e trabalhar, da pesca artesanal, extrativismo, criação de animais e a cultura da vazante, lameiro e terra firme. As plantações seguem os tempos da chuva, da seca e os tempos do rio, das cheias que influenciam nos lugares de viver e circular, e da vazão, quando o rio baixa e oferece uma área úmida que se torna propícia para plantar, assim se entendem como povos das águas e das terras crescentes. Seu Natalino (vazanteiro da Comunidade Ilha de Pau de Légua, Manga, outubro de 2022) explica: eu planto na época da chuva, aí o sol vem e mata, cá embaixo eu planto, o rio vem e mata, a vazante e o lameiro, o rio vem e mata. Então nós somos felizes, porque aqui no lameiro eu plantei e morreu? A vazante morreu? Terra firme ficou. Outra categoria que acionam é a de encurralamento que representa o contexto de conflitos socioambientais, estando situadas em área de incidência de unidades de conservação, do perímetro de irrigação do Projeto de Fruticultura Irrigada Jaíba e terrenos marginais da União no entorno e sobrepostos aos seus territórios. Esse trabalho traz discussões parciais de tese de doutorado em andamento, onde temos por objetivo compreender as dinâmicas e os sentidos dos movimentos migratórios junto aos Vazanteiros e Quilombolas do Médio São Francisco, através de uma etnografia multissituada. Por meio da pesquisa, compreendemos que estão em movimento, se articulam e conectam de formas complexas, como a articulação Vazanteiros em Movimento, movimento social e político onde diferentes comunidades vazanteiras se organizam, a fim de reivindicar seus direitos e retomadas de território. Ao longo dos anos perderam áreas coletivas, de lagoas, de mata, de vivências, devido a grilagens e outras formas de encurralamento e assim, as mobilidades para trabalho se tornaram intensas. As migrações destinam plantações e colheitas de café no Triângulo Mineiro, e idas para Belo Horizonte e São Paulo, onde os homens saem majoritariamente para a construção civil e empresas agrícolas, já as mulheres para trabalhos domésticos, de cuidados. Movimentam em coletividade, os que migram, mas também os que ficam, se articulando em busca da regularização fundiária, da soberania das comunidades, do respeito ao modo de vida tradicional.