Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 020: Antropologia e Alimentação: interculturalidade, saberes críticos e desafios contemporâneos em contextos de luta por direitos
Entre becos e vielas: práticas culinárias de mulheres, durante a pandemia de COVID-19, participantes de um projeto social e moradoras no Complexo Paraisópolis.
Introdução: A multiplicidade que permeia a alimentação, o comer e o cozinhar podem influenciar as práticas culinárias dos indivíduos modificando e sendo modificada pela trajetória social destes. Com a pandemia de COVID-19, cenários de desigualdades socioeconômicas foram evidenciados. Pesquisa brasileira com 2.087 moradores de favelas, mostrou que 68% não tiveram dinheiro para comprar comida em ao menos um dia, o que agravou um cenário que já era crítico. Assim, é importante entendermos quais são os significados e representações construídos sobre as práticas culinárias de indivíduos ou de grupos sociais específicos, para compreendermos o nosso contexto atual. Objetivos: Compreender os significados das práticas culinárias de mulheres moradoras do Complexo Paraisópolis/São Paulo participantes do projeto Fazendeiras, no contexto da pandemia de COVID-19. Métodos: De natureza qualitativa, este estudo foi fundamentado em uma pesquisa de campo etnográfica, construída junto à vivência de dez mulheres em um projeto social chamado Fazendeiras, organizado pelo instituto Fazendinhando na favela do Jardim Colombo/Complexo Paraisópolis, São Paulo. Foi realizada a observação participante das aulas do curso de culinária cursado pelas interlocutoras deste estudo e de algumas ações sociais realizadas pelo instituto Fazendinhando, além da construção de um diário de campo durante todo o período da pesquisa. Para análise do material, utilizamos a descrição densa e, posteriormente, as etapas de identificação e problematização das ideias; busca pelos sentidos socioculturais atribuídos; diálogo entre as ideias problematizadas, a literatura acerca do assunto. Resultados: Observamos limitadas estratégias alimentares e culinárias que precisaram ser colocadas em prática pelas mulheres interlocutoras deste estudo. Além disso, vimos que para elas as práticas culinárias têm múltiplos significados permeados por suas trajetórias sociais e estilos de vida. Os significados versam sobre temas como carinho e cuidado com a família; obrigação/responsabilidade, isso porque elas precisaram cozinhar desde pequenas para alimentar suas famílias e durante a pandemia eram as responsáveis por correr atrás da cesta básica; e sobrevivência. Conclusão: Observamos que as práticas culinárias são atravessadas por diferentes perspectivas que expressivamente destacam seu determinismo histórico-estrutural a partir de um modelo de sociedade capitalista, patriarcal e racista. Dessa forma, abordar questões que estruturaram e estruturam essas práticas culinárias baseadas na interseccionalidade de opressões de gênero, raça, classe, região de procedência, dentre outras é fundamental para pensarmos na manutenção das políticas públicas.
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