Trabalho para SE - Simpósio Especial
SE 03: Antropologia e Saúde: epidemias, iniquidades e o trabalho antropológico
Para que serve um laboratório de antropologia?
O Laboratório de Antropologia da Saúde e da Doença (Labas) foi criado no início dos anos 2000, no âmbito do Departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Brasília. Situado em um espaço demarcado pela interdisciplinaridade própria do campo da saúde coletiva, onde convergem saberes da epidemiologia, política, planejamento e gestão e ciências sociais e humanas, a ideia de criar o Labas buscava encontrar um espaço de interlocução entre a antropologia da saúde junto aos diversos cursos do campo da saúde, em especial, medicina, enfermagem, farmácia, odontologia, nutrição e saúde coletiva. A reflexão que desenvolvo no trabalho procura pensar o papel de um laboratório de antropologia no sentido de constituir um espaço institucional que discute conteúdos programáticos da antropologia da saúde e fornece ferramentas de pesquisa, técnicas e metodologias próprias da antropologia como a etnografia, a observação participante, o diário de campo, a escrita, assim como a interação com diversos grupos sociais e o entendimento do processo saúde-doença como eventos que além de suas manifestações biológicas e clinicas, possuem conotações sociais, culturais, políticas e simbólicas. O Labas tem sido uma oportunidade de diálogo interdisciplinar para operacionalizar o ensino da antropologia da saúde e a estruturação de linhas de pesquisa que analisam criticamente o modelo biomédico, os determinantes sociais da saúde e a dimensão econômica dos fenômenos da saúde em contextos sociais específicos e as vulnerabilidades que os configuram. Ao longo dos anos o Labas tem modificado seus temas de pesquisa, mas prevalecem algumas características que modelam sua identidade tanto no ensino na graduação e na pós-graduação, quanto na agenda de pesquisa. Dentre os principais temas abordados destacam populações vulneráveis ao HIV e aids, outras doenças infecciosas, como a sífilis e a tuberculose; determinantes sociais da saúde, interseccionalidades de classe/gênero/étnicas, violência, saúde indígena e cooperação internacional em saúde. Em uma visão epistemológica focaliza nas potencialidades heurísticas da abordagem destes temas a partir das características epidemiológicas conjuntamente com a perspectiva da antropologia da saúde, visando mostrar os fenômenos da saúde e da doença em sua expressão distributiva em territórios e cenários e o papel das práticas sociais enquanto expressões sociais e culturais de vida.