Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 062: Fronteiras e fabulações: antropologias especulativas e experimentos etnográficos
Quem tem memória nunca está só: reflexões sobre ancestralidade, Tempo e encantamento a partir do
Candomblé de Nação Ketu.
Compreendendo o Candomblé como uma realidade autônoma, que pode ser pensada a partir de seus próprios
elementos, conforme registrou Roger Bastide (2001), me proponho a semear reflexões sobre memória,
continuidade e produção do encantamento, pautadas no terreno do Tempo ancestral. Por meio da escrevivência
(Evaristo, 2017), registro percepções construídas a partir dos caminhos de axé que me são permitidos como
iniciada na tradição do candomblé de Nação Ketu, em consonância com aspectos da cosmovisão africana e da
filosofia da ancestralidade (Oliveira, 2021). Nesse sentido, utilizei de categorias e/ou concepções sobre
memoria já pensadas por teóricos clássicos (Halbwachs, 1990; Pollak, 1992; Nora, 1993) para recriar outros
significados, fazendo fabulações, a partir de conhecimentos ancestrais e teóricos, colocando na encruzilhada
das ideias, oferenda de velhas roupagens com novas já antigos referencias, perspectivas do mundo moderno e
do mundo ancestral. Considero a sabedoria dos mais velhos como vozes conceituais a partir da compreensão da
valoração da palavra falada, a oralidade, como elemento que faz nascer a escrita como propõe Hampaté Bá
(2010). Dialogo sobre a ancestralidade como matéria que constitui o tempo e que permeia tudo aquilo que
compõe o universo das tradições afro religiosas, na intenção de construir perspectivas sobre a relação do
tempo ancestral, pensada a partir do Orixá Iroko, com a dimensão sagrada do Ofó, o poder da palavra,
atribuída ao Orixá Ossaim, como elemento que contribui para a produção do encantamento, na experiencia do
Ilê Asé (terreiro) como lugar físico de (re)existência ancestral, detentor de uma memória viva e pulsante,
que faz lembrar e é contribuinte para a continuidade e o encantamento do mundo.