Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 010: Antropologia da percepção e dos sentidos
Despertando outros sentidos: modos yanomami de perceber e agir n/o mundo
De muitas formas distintas, podemos considerar a vida sensorial, em sentido amplo, como uma dimensão significativa da vida social. No mundo yanomami, existem diversas substâncias mágicas (hërɨ kekɨ) utilizadas no cotidiano como propiciadoras (para encontrar caça, pegar caranguejo), como proteção (para atrair bons espíritos e/ou afastar os maus), como feitiço (para seduzir ou causar infortúnios a alguém), etc. Geralmente são misturas de espécies vegetais, que atuam especialmente através de seu aroma. Para que um iniciado possa tornar-se xamã de verdade, os espíritos das folhas, dos cipós e das árvores esfregam seu corpo com água fresca de igarapé da montanha, para limpá-lo de todo fedor: é assim que o corpo começa a se preparar para receber os espíritos. Nesse sentido, o cheiro nos fala de um conhecimento que passa pelo corpo de forma bastante literal. Em A Queda do Céu, Davi Kopenawa (2015) também conta que as ferramentas de metal dos brancos, assim como suas cidades, têm um cheiro nauseante de epidemia xawara, a doença que devora as pessoas. Além disso, as pinturas e adornos corporais também são mobilizadas como forma de proteção nas caminhadas pelo mato ou no intuito de indicar e acionar presenças durante uma festa, ritual ou encontro político. Indo além de uma paisagem mais intelectualista, na qual as qualidades sensíveis são boas para pensar ou conhecer o mundo, aqui o universo sensorial aparece como sendo particularmente bom para agir e se relacionar. Assim, o objetivo do presente trabalho é refletir sobre as relações entre ética, estética e prática no mundo yanomami, partindo de reflexões etnográficas oriundas da minha pesquisa de mestrado.