ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 011: Antropologia da técnica
As tecnologias digitais e a tecnodiversidade: impactos socioculturais e estratégias de ressignificação entre os Ka'apor
Os dispositivos tecnológicos digitais de informação e comunicação desenvolvidos durante as últimas décadas tem apresentado eficácia na captação da atenção dos usuários e na relação de dependência estabelecida entre eles. Zuboff (2021) argumenta que distintos grupos sociais estão tendo seus imaginários e relações sociais alteradas pela vigilância massiva que as grandes corporações tecnológicas estão submetendo a sociedade. Porém, é necessário reconhecer que a relação de dependência com essas tecnologias de mercado não afeta todos os grupos de maneira uniforme, necessitando de uma maior atenção para seus impactos entre os povos indígenas. O povo Ka’apor, habitantes da região amazônica no noroeste do estado do Maranhão, tem se questionado sobre os impactos que as redes sociais e outras formas de socialização digitais tem ocasionado em sua sociedade, atribuindo horários específicos para que os aparelhos de acesso à internet sejam ligados e desligados. Embora o aparelho celular e a rede de internet proporcionem registrar, produzir e divulgar provas contra invasores do território indígena, ela também interfere nas relações entre membros do grupo, privilegiando outras lógicas relacionais que se contrapõem ao Bem Viver, como a lógica de consumo. De acordo com Hui (2021), a aceitação de tecnologias estrangeiras podem contrariar a cosmovisão de povos e comunidades tradicionais, e repensá-las criticamente constitui um papel fundamental para a sua negação, reapropriação ou produção. Sendo necessário estimular a criação de tecnologias alternativas que possam se contrapor ao desenvolvimento tecnológico do Norte Global, que impõe uma história universal da técnica e nega valores culturais próprios dos povos que se recusam a aceitar a racionalidade imposta pela colonialidade. Cusicanqui (2010) argumenta que a produção de uma técnica diversificada deve priorizar a valorização epistemológica de cada povo, através de seus códigos, linguagens, ações e conhecimentos culturais e políticos. Nesse sentido, esta pesquisa pretende apresentar como os arranjos sociotécnicos são utilizados pela sociedade Ka’apor, suas expectativas em relação ao contato interétnico estabelecidos com grupos de apoiadores através da rede, que ajudam na disseminação de imagens e vídeos sobre invasões e conflitos com atores da sociedade nacional e fornecem apoio aos indígenas para pressionarem as instituições governamentais responsáveis pela sua proteção, e suas frustrações em razão da dependência que os indivíduos de cada comunidade, sobretudo os mais jovens, estabelecem com as tecnologias digitais, como as redes sociais, e deixam de valorizar aspectos da própria cultura para considerar formas relacionais próprias da sociedade ocidental que contrariam o Bem Viver.