ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 061: Formas da restituição: coleções científicas, reparação e a longa jornada de volta.
Estratégias de mediação e participação social no processo de patrimonialização da Coleção Perseverança
A Coleção Perseverança composta por mais de 200 objetos de Matriz Africana roubados de terreiros de Alagoas nos ataques do ano de 1912 conhecidos como Quebra de Xangô vive um processo que pode resultar em seu reconhecimento e acautelamento como Patrimônio Cultural do Brasil. Na instrução de tombamento levada a cabo pelo IPHAN, instituição da qual faço parte como servidor da área técnica, diversas ações vêm sendo desenvolvidas com o objetivo de viabilizar a participação social e o protagonismo de religiosas e religiosos de Matriz Africana no processo de atribuição dos valores e da significação cultural da Perseverança, tal qual determina a Política do Patrimônio Cultural Material da instituição. Além disso, as interlocuções em curso compreendem mediações com agentes diversos, particularmente com o Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas que detém a guarda dos objetos. A presente proposta visa apresentar rendimentos da prática etnográfica em curso junto a esse processo de interlocução e mediação que atravessa a instrução de tombamento da Coleção Perseverança. A partir da posição de técnico do IPHAN, enfoco as estratégias desenvolvidas buscando estabelecer uma interlocução simétrica entre religiosas/os de Matriz Africana, equipe técnica e demais agentes envolvidos por meio da institucionalização de um grupo de trabalho, nas quais se revelaram influências de minha própria formação no campo da Antropologia especificamente em relação à formulação metodológica da proposta de participação social. Discorro sobre os resultados desse processo de interlocução e mediação condensados na atribuição dos valores históricos, etnográficos e artísticos dos objetos, evidenciando que a instrução de tombamento encontra-se subsumida em um mais amplo processo de patrimonialização da Coleção Perseverança enquanto patrimônio do povo de Santo. Finalmente, abordo as discussões atualmente em curso acerca das diretrizes de gestão dos objetos compreendendo a proposição de uma gestão compartilhada entre os diversos agentes envolvidos e centrada no protagonismo de religiosas e religiosos de Matriz Africana.