ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 012: Antropologia das Emoções
Rituais de Humilhação
O seguinte trabalho faz parte da pesquisa de Iniciação Científica intitulada “A face oculta do riso: o humor como dispositivo de humilhação social”. Tem por objetivo, ao realizar uma etnografia virtual e análise de conteúdo e imagens a partir das redes sociais de determinados comediantes (Léo Lins e o “Canal Hipócritas”, principalmente), relatar a importância da análise socioantropológica do discurso humorístico como um dos fatores para a construção de uma visão de mundo (e, por consequência, também de uma conduta) que, aqui no caso analisado, opera como uma técnica racional da narrativa da humilhação social, destinada principalmente às minorias sociais. Essa narrativa, portanto, auxilia na construção de determinadas margens: daquilo que se considera correto e daquilo que se considera incorreto, ou, em um salto teórico, do que é inteligível e do que é ininteligível (Butler, 2019). Ou seja, que a partir do discurso que faz rir (Foucault, 2010) pode-se investigar questões objetivas da assimetria e hierarquização daquele agente do “perigo”, de desordem. Para isso, é necessário localizar o humor enquanto uma das partes constituintes dessa narrativa, sendo um desdobramento cultural da instrumentalização da raiva por parte do “bolsonarismo” que, em um contexto de neoliberalismo autoritário e austero, depende de delimitar um “inimigo” no local da impureza e que, por consequência, deve ser eliminado. É o humor, aqui, um tipo de técnica, mesmo que simbólica, capaz de construir discursos e práticas. Funciona, no âmbito cultural, do entretenimento e do espetáculo, como uma justificativa do “bolsonarismo” como um agente reintegrador da norma. O trabalho, portanto, pretende: I) apoiando-se teoricamente em uma gama de autores, estabelecer que a humilhação social faz parte de um duplo encontro: por um lado, uma ação racionalmente guiada. Pelo outro, um sentimento em si; II) que o humor pode funcionar como uma técnica de construção de condutas, práticas e de visões de mundo e III) que a narrativa da humilhação, construída humoristicamente por agentes morais da extrema-direita brasileira, é fabricada afetivamente pela raiva, ressentimento, ódio e nojo.