Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 081: Os limiares do corpo: a circulação de substâncias corporais e a produção de pessoas e relações
Parir e sangrar no corpo-território: A prática da placentofagia no circuito das doulas adeptas da
Ginecologia Natural
A ingestão da placenta no pós-parto, in natura ou convertida em cápsulas, é uma prática que vem se
consolidando no Rio Grande do Norte entre doulas e parturientes adeptas do ideário da Ginecologia Natural,
expressão sociocultural contemporânea emergente na América Latina na última década. Esse movimento guarda um
caráter político na medida em que aponta os efeitos da colonialidade que incide sobre os corpos femininos,
defendendo a desmedicalização como caminho para recuperação da autonomia sobre a saúde sexual e reprodutiva
e a validade de outras epistemologias. Em campo observou-se que o discurso dessas agentes, ao se opor ao que
consideram um monopólio da ginecologia pelo paradigma médico dominante, compreendido como parte de uma
ciência androcêntrica, aproximam permanentemente o corpo à uma natureza dicotomizada e exaltada, positivando
placentas e fluídos em ritos de cuidado no pós-parto.
Este artigo parte da etnografia realizada em dois espaços promovidos por doulas no Rio Grande do Norte, a
saber: um workshop de formação em medicina placentária e uma roda de partilha sobre autogestão da saúde da
mulher por vias não farmacológicas. O objetivo é discutir 1) como estes espaços em torno da Ginecologia
Natural têm se constituído localmente, 2) como essas doulas têm associado seu ideário ao da humanização do
parto, 3) que continuidades guardam com o fenômeno Nova Era e seus pilares - espiritualidade, ecologismo e
feminino centralizado (MAGNANI, 1999), 4) quais entendimentos sobre o corpo e seus fluídos vem sendo
promovidos por essas agentes e 5) como seus valores e práticas têm sido reproduzidos e funcionado como
produtores de um estilo de vida, consolidando um sistema simbólico e o consumo de bens, serviços e objetos a
ele vinculado. Como procedimentos metodológicos, além da observação participante, lanço mão de entrevistas
semiestruturadas com as interlocutoras, analisando como suas trajetórias individuais são impactadas pelo
conjunto de disposições e escolhas estéticas que compartilham.
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