Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 009: Antropologia da Economia
Auxílios e autonomia: Impactos das políticas governamentais de auxílio financeiro na comunidade de Laranjal
As comunidades rurais amazônicas, também conhecidas comunidades tradicionais, são em geral associadas a uma quem em seu cerne a produção familiar e o extrativismo para subsistência aliadas a quaisquer outras práticas produtivas ou empregatícias para o complemento da renda familiar, tais como venda de peixe, trabalho em olarias, diárias de roçado ou de doméstica, entre outros, tornando assim a comunidade rural ou tradicional um local de equilíbrio entre as práticas econômicas tradicionais e o capitalismo crescente.
No entanto, em antropologia sabemos que o equilíbrio e a coesão são sempre categorias suspeitas, e, aos nos debruçarmos sobre alguns contextos rurais vemos que as comunidades já passaram do estágio de absorção dessa economia capitalista em sua dinâmica específica, para serem elas quase que absorvidas pela economia mundial capitalista, tendo a sua autonomia alimentar e estrutural colocada em cheque e a sua diferenciação ao contexto urbano cada vez mais opaca.
Meu objetivo neste trabalho será o de expor dados colhidos em campos no ano de 2023 juntamente com a ONG Saúde e Alegria, em parceria com a Cooperativa Agroextrativista do Oeste do Pará, a ACOSPER, para a aplicação de diagnósticos socioprodutivos nas regiões da Resex Tapajós/Arapiuns e do PAE Lago Grande, no município de Santarém, Pará. Esses diagnósticos revelaram uma crescente dependência de auxílios governamentais, tais como aposentadorias e bolsas para a subsistência das famílias. Estes dados vêm a complementar um estudo etnográfico mais focado na comunidade de Laranjal, no Lago Grande, região de Arapixuna, que num continuum entre autonomia camponesa e integração à economia urbana se encontra muito mais próximo do segundo caso, tendo abandonado quase que completamente a produção de farinha e de outras culturas todas como intrínsecas ao modo de vida rural na Amazônia, a comunidade se apresenta como um desafio analítico da categoria rural. Essas transformações decorreram de diversos fatores históricos, como chegada da rede elétrica no ano de 2009, a desvalorização dos produtos da agricultura familiar na economia local e, como analisarei neste trabalho, a entrada de um novo modelo de economia que liga o camponês diretamente ao estado, os auxílios, bolsas e aposentadorias.
Como essa nova dinâmica econômica afeta a reprodução social da população dessa comunidade? Que arranjos econômicos e sociais a comunidade encontra para mitigar esses impactos? Onde nesses ainda cabe a categoria "rural"?, visto que esta se emprega sempre em um contexto de relação de um povo com o território, principalmente sob o prisma produtivo? São essas e outras questões que buscarei desenvolver neste breve trabalho.