Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 023: Antropologia e saúde mental: sofrimento social e (micro)políticas emancipatórias
Um experimento etnográfico num grupo de Mulheres em Sofrimento Mental: Pensando a Agência
O artigo analisa a possibilidade de agência de mulheres em sofrimento psíquico em um grupo de saúde mental, focalizando as vivências de gênero. Destaca a abordagem antropológica da sexualidade, ressaltando influências construtivistas e culturais. Discute diversas perspectivas sobre gênero e feminismos, desde estudos pioneiros com críticas ao longo do século XX até reflexões contemporâneas, propondo uma antropologia mais inclusiva da mulher. McIntosh (1968) discutiu o papel homossexual como uma categoria social, argumentando contra uma abordagem médica ou psiquiátrica. Oakley (1972) e Rubin (1975) expandiram essas reflexões, destacando a variação cultural na definição de gênero e sexo, e separando a sexualidade do gênero como sistemas distintos. Aborda a relação entre agência e saúde mental, considerando as interseccionalidades de gênero, raça e classe, e destaca a importância das políticas públicas nesse contexto. Ortner (2007) e Mahmood (2019) oferecem perspectivas sobre agência e poder. A proposta metodológica deste estudo envolve a análise dos registros feitos por uma usuária e uma trabalhadora que coordenaram os encontros do Grupo de Mulheres em um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS III) brasileiro. O grupo, composto principalmente por mulheres negras e pardas de baixa renda e escolaridade, teve como objetivo proporcionar um espaço seguro para discutir vivências de gênero. Os encontros ocorreram semanalmente ao longo de cinco semanas. A metodologia adotada incluiu atividades como apresentação pessoal, escolha de uma palavra representativa, uso de recursos musicais e expressivos, e produção de cartazes reflexivos. O estudo visa compreender como as questões de gênero afetam a saúde mental das mulheres usuárias do CAPS, problematizando as relações de poder e promovendo trocas de experiências e debates no grupo. A partir das considerações sobre registros do grupo, o texto sugere que, apesar do sofrimento, essas mulheres demonstram agência ao refletir sobre suas experiências de dominação. A análise antropológica oferece insights críticos sobre questões de saúde mental e direitos humanos. Por fim, destaca-se a complexidade dos temas para além da visão biomédica, apontando para a necessidade de políticas públicas e antimanicomiais mais inclusivas e sensíveis às questões de gênero.
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