Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 062: Fronteiras e fabulações: antropologias especulativas e experimentos etnográficos
Bilinguajando simultaneamente: experimentações etnográficas entre e contra
Neste paper exploro e adenso uma discussão sobre a forma de apresentação da tese bilíngue que defendi
(Patriarca, 2023), partindo e discutindo os efeitos da minha vivência e atuação, possuindo também
oficialmente as cidadanias italiana e brasileira. Na tentativa de comunicar com os dois contextos culturais,
diversos e desigualmente marcados na geopolítica global, discuto as (im)possibilidades de escrita
antropológica em duas línguas. Discuto como elaborações autoetnográficas por vezes partem de uma cisão muito
estanque entre o público com o qual se realiza trabalho de campo e o público com o qual se dialoga na
produção da escrita antropológica. De outras formas, uma vez que minha atuação me permite partir de uma
atuação e circulação múltipla, passo a refletir sobre as possibilidades de escrita, diálogo e retorno
textual também múltiplas. Situo minha produção como uma forma de saber, que se pretende entre, como ponte
que permite comunicações e diálogos, múltiplos e simultâneos com diversos públicos. Além de me colocar entre
saberes e contextos culturais, a perspectiva contra surge na tentativa de escrita nas línguas dos dois
contextos em questão (em português e em italiano) e não na escrita em inglês (língua oficial para
comunicação acadêmica), além de marcar a escrita em português e com uma bibliografai brasileira traduzida
para o italiano que também desponta como contexto cultural europeu e com marcas de colonialidade de saber e
violência epistêmica. Dessa forma, escrevo também em italiano como prática decolonial para efetivamente
comunicar e provocar ruídos nas narrativas locais italianas que desconsideram ou ignoram produções
brasileiras. Portanto através do meu saber localizado entre, perpasso discussões metodológicas sobre a
fabricação textual e a apresentação formal de um trabalho que pretende comunicar, ao mesmo tempo, com
contextos culturais distintos, sem perder suas disputas e especificidades, que muitas vezes necessitam de
uma contextualização diversa. Discuto também as possibilidades de elaborações e fabulações em formatos
engessados por uma tradição acadêmica necessariamente escrita e diante de normas tácitas ou implícitas que
limitam a apresentação (textual) de saberes.
© 2024 Anais da 34ª Reunião Brasileira de Antropologia - 34RBA
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