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Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 029: Arquivos, coleções e objetos de arte: artefatos e invenções em perspectiva etnográfica
Imagens como arte-fatos: os álbuns da família e da editora Leuzinger no Instituto Moreira Salles
Gabriela Costa Limão (UNICAMP)
A trajetória da Família Leuzinger se inicia, no Brasil, na primeira metade do século XIX. O patriarca suíço, Georg, aportou no Rio de Janeiro e, alguns anos depois tornou-se o formador da Casa Leuzinger, ou poderíamos dizer "das casas Leuzinger": a familiar, que reflete o projeto de sociedade burguesa do período, com filhos enviados a Europa para realizarem seus estudos e filhas (muito bem) educadas pela mãe francesa; e a editorial, que teve um grande destaque no ramo de impressos no país, e esteve associada aos projetos do Império. Rebatizado, Georges, na grafia francesa, língua e cultura muito valorizadas nas principais ruas da cidade carioca, ele financiou a viagem de Albert Frisch, fotógrafo alemão, para a Amazônia, junto de seu genro, o engenheiro Franz Keller, casado com sua primogênita Sabine Leuzinger – quem acompanha o marido em viagem. As paredes que delimitam os contornos entre negócios e família são porosas, pois ambos estão imbricados nas trajetórias de seus membros. De Frisch, o editor publicou o livro Resultat d'une expedition photographique sur le Solimoes ou Alto Amazonus et Rio Negro, em 1869. Esse livro traz imagens de povos indígenas, da fauna e da flora, assim como de cidades da região visitada, percebendo-se a consonância com ideias do período em que o exótico se tornou uma mercadoria em países estrangeiros. O encontro entre ideais românticos e cientificistas da segunda metade do século XIX permeia as poses e descrições dos sujeitos fotografados, seja nas montagens fotográficas, nas encenações de cenas, ou mesmo na catalogação material presente nas imagens. Um exemplar deste livro encontra-se no Instituto Moreira Salles, que também guarda o acervo da Família Leuzinger, no qual algumas cartas, um álbum e diários de mulheres da família estão arquivados. Para esta apresentação, me interessam o álbum de autoria de Albert Frisch e o álbum familiar dos Leuzinger. A proposta não é compará-los, mas sim, somá-los para uma análise que aproxima a vida familiar da vida editorial, e que considera a curadoria imagética de cada um e seus significados quando de suas produções e atualmente. Além disso, proponho encará-los como arte-fatos, discutir o caráter múltiplo das imagens e o que elas têm a nos dizer enquanto produção artística, fonte documental e fragmentos históricos.