Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 046: Educação diferenciada e territorialidades: fazeres, conflitos e resistências
Educação quilombola como enfrentamento ao racismo no Alto Sertão paraibano
A partir da implementação da Lei 10.639/2003, que inclui a obrigatoriedade da temática e do ensino da História e Cultura afrobrasileira na rede de ensino no Brasil, o presente trabalho propõe uma reflexão acerca da prática da educação promovida pela Comunidade Quilombola de Cruz da Tereza, situada na cidade de Coremas, alto sertão paraibano, em parceria com o projeto de extensão Histórias de Quilombo. Em defesa da equidade, respeitando as particularidades e encorajando o pensamento crítico sobre a invisibilização da cultura negra, neste trabalho, descrevemos os caminhos e mecanismos delineados pela atuação da União dos Negros Quilombolas de Coremas (Unequico) para fortalecer a educação quilombola a partir de atividades pedagógicas e do aprendizado de crianças e adolescentes com base nos saberes quilombolas e nos conteúdos escolares, visando dirimir o racismo estrutural, o apagamento da história e dos aspectos culturais locais na rede de ensino municipal da cidade. Apresentamos processos e materiais didáticos-pedagógicos produzidos pela comunidade desde 2021, como a produção da cartilha Aprendendo com os Quilombos de Coremas, aulas de reforço escolar, fichas de acompanhamento pedagógico, oficinas artísticas/artesanais, horta educativa/comunitária, além de atividades temáticas que ressaltam a identidade quilombola e cultura afrobrasileira. Outrossim, enfatizamos os processos de formação e capacitação dos(as) educadores(as) locais, sublinhando a importância de profissionais engajados(as) na busca por valorizar as habilidades pedagógicas, baseadas em perspectivas quilombolas, como cerne do processo educativo. Entre os resultados obtidos ao longo da parceria, iniciada em 2020, tivemos a distribuição de quase 600 exemplares da cartilha em 14 comunidades quilombolas; com base nas aulas de reforço escolar e as fichas de acompanhamento, concebemos números significativos no processo de alfabetização de 58 crianças; realizamos ações de impacto, como a implementação da horta educativa/comunitária; dentre os conteúdos escolares, promovemos atividades temáticas na disciplina de artes e história afrobrasileira e oficinas de artesanato. Destarte, o presente estudo oferece uma visão sobre a prática da educação quilombola, que se produz nas mais variadas formas de organização comunitária como parte de uma educação diversa e contextualizada, considerando as relações da comunidade com o território, os saberes tradicionais e a memória coletiva. Ao observar e valorizar a educação quilombola promovida na Unequico, buscamos contribuir para o fomento do debate teórico e metodológico sobre esses processos educativos promovidos em contextos colaborativos, biointerativos, como ensina o mestre Antonio Bispo, e de diversidade cultural.