Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 089: Quilombos: processos de territorialização, movimentos sociais e conflitos
Consolidação de Museus Vivos em Comunidades Quilombolas: a construção da memória como política de
reconhecimento
A presente comunicação busca colocar em discussão um conjunto de iniciativas, que estão em curso, há
pelos menos uma década na Amazônia, de criação dos chamados Museus Vivos, também designados Centros de
Ciências e Saberes. Estas iniciativas são orientadas para a organização de coleções de objetos classificadas
de acordo com taxonomias próprias, pensadas e definidas por curadores que são referidos às próprias
comunidades quilombolas às quais estas coleções se referem. Os atos de curadoria, ora tratados,
distanciam-se sobremaneira das ações de classificação de inspiração colonial que tão bem caracterizam
políticas museais oficiais na medida em que se constituem em instrumento de luta política face a inúmeras
iniciativas de violação dos direitos étnicos e territoriais. Ou seja, classificados por aqueles que
organizam essas novas coleções como museus vivos, as experiências ora refletidas parecem demarcar uma
inflexão em referência às ações de musealização que, orientadas pelas noções de sociedade, cultura e/ou
povos primitivos _ ou selvagens por derivação _, fundamentaram a organização e estruturação de coleções
representativas dos chamados primitivos em contexto colonial. Aproximam-se, em distinção, das ações de
resistência que demarcam a politização das relações de conflito social, por vezes agudos, que caracterizam
os atos de intervenção em comunidades quilombolas perpetrados, seja por ações oficiais, seja iniciativa
privadas que avançam sobre os territórios tradicionais. Tais experiências nos convidam a refletir sobre a
relação entre os autodesignados museus vivos e as políticas de reconhecimento étnico.
© 2024 Anais da 34ª Reunião Brasileira de Antropologia - 34RBA
Associação Brasileira de Antropologia - ABA