ISBN: 978-65-87289-36-6 | Redes sociais da ABA:
Apresentação Oral em Grupo de Trabalho
GT 056: Etnografias do catolicismo: práticas, rituais, experiências e trajetórias em perspectiva
Restos, relíquias e objetos sagrados: um estudo sobre a agencia das materialidades no culto aos santos católicos
A proposta deste trabalho é analisar o papel desempenhado por diferentes objetos na fundamentação da devoção dedicada ao padre polonês Rodolfo Komórek. Procuro, com esta abordagem, oferecer uma contribuição etnográfica ao campo da Antropologia das devoções e do catolicismo, que não se restrinja apenas à análise das representações religiosas e dos seus simbolismos, mas que também valorize as condições materiais do fenômeno religioso. Rodolfo Komórek nasceu na Polônia em 1890 e chegou ao Brasil em 1921 como missionário salesiano. Residiu e atuou em diferentes localidades, e morreu de tuberculose em 1949, na cidade de São José dos Campos, SP, local onde floresceu o movimento devocional. No ano de 1964, os salesianos deram início ao seu processo de canonização. Atualmente, há três espaços na cidade dedicados à sua memória e culto religioso: a capela Menino Jesus de Praga (onde está sepultado), o seu Memorial, ambos localizados na paróquia salesiana; e o quarto onde faleceu, localizado no antigo sanatório Vicentina Aranha que, atualmente, é um parque público. Os objetos analisados aqui são diversificados e incluem as relíquias, ou seja, os restos mortais do padre Rodolfo, e alguns de seus objetos pessoais, como fotografias, livros, cartas e apetrechos litúrgicos. Além da evidente diferença na composição material e na forma, a variabilidade da capacidade agentiva destes objetos também depende das características dos espaços físicos e da cadeia de sentido em que foram inseridos e agrupados. Ao analisar a disposição destes objetos nos três espaços dedicados ao padre Rodolfo, procuro compreender duas questões que são interligadas: 1) Como estes diferentes objetos mobilizam a agência do padre Rodolfo na relação devocional estabelecida com os devotos. 2) Como estes objetos o presentificam nesta mesma relação? Objetos que na capela inserem o padre Rodolfo em relações propriamente devocionais, no memorial e no quarto, ganham outros sentidos, historicizando sua presença e produzindo uma singularização dentro de um registro biográfico, mais do que hagiográfico. Nesta análise, noções como a de pessoa fractal (R. Wagner) e personitude distribuída (A. Gell) podem nos ser úteis para compreendermos como coisas, objetos, enfim, materialidades de pessoas mortas neste caso, uma pessoa santificada - podem continuar mantendo sua presença e agência dentro de uma determinada rede de causalidade. Por fim, procuro com esta análise, discutir algumas questões importantes para a Antropologia das devoções, como as tensões entre as noções de representação e presentificação, as diferenças, similitudes e continuidades entre imagens e relíquias de santos; a produção de agência e o princípio de causalidade nas práticas devocionais.